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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Para ministra, frase de Neymar contra racismo pode reforçar estereótipo

A ministra Luiza Bairros, durante evento contra a
discriminação racial, em 2011 (Renato Araújo/ABr)

Luiza Bairros, no entanto, elogiou atitude de Daniel Alves ao comer banana.
Expressão '#somostodosmacacos' se espalhou na rede em apoio ao atleta.

Por Renan Ramalho,
Embora tenha surgido da boa intenção de combater o racismo, a campanha lançada pelo jogador Neymar espalhando a frase "#somostodosmacacos" pelas redes sociais pode ter o efeito contrário, de reforçar um estereótipo negativo historicamente associado ao negro. A opinião é da ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, que expressou ao G1 reservas em relação ao novo viral surgido na internet.

"Essa imagem do macaco associada à pessoa negra é uma imagem muito poderosa. E se você assume essa imagem como válida, corre o risco também de reforçar o estereótipo. Eu entendo a campanha e a motivação da campanha, mas não é possivel assegurar que ela tenha o sucesso necessário para reverter a representação negativa que a palavra 'macaco' tem quando associada à pessoa negra", afirmou Bairros.


Se você assume essa imagem como válida, corre o risco também de reforçar o estereótipo [...] Não é possivel assegurar que ela tenha o sucesso necessário para reverter a representação negativa que a palavra 'macaco' tem quando associada à pessoa negra"
Luiza Bairros, ministra da Secretaria de Igualdade Racial

Embora reconheça que a frase remeta à ideia de que "todos são iguais" – como disse o próprio Neymar –, Bairros sustenta que "ela não consegue ser mais poderosa do que o significado original. "Eu reconheço a boa intenção, mas essa imagem é uma imagem poderosa demais. Vai ter que trabalhá-la mais para poder descontrui-la", disse.

A campanha espontânea surgiu após o jogador Daniel Alves, do Barcelona, comer uma banana atirada por um torcedor durante uma partida contra o Villareal, pelo campeonato espanhol. A expressão "#somostodosmacacos" passou rapidamente a ser reproduzida nas redes por famosos, anônimos, crianças e estrangeiros ao lado de uma foto comendo banana.

O próprio Daniel Alves aderiu, postando: "Meu Brasil Brasileiro, Verde, amarelo, preto, branco e vermelho. Somos um povo alegre com samba no pé, e é com alegria e ousadia que a gente tem que se manifestar. Olha a banana, olha o bananeiro… sou baiano, sou brasileiro… estamos mais fortes do que nunca, o sorriso é a nossa proteção, a musica é a nossa espada".

Apesar das reservas à frase, Luiza Bairros considera que Daniel Alves teve uma atitude positiva na reação ao torcedor que atirou a banana, já identificado e banido pelo Villareal.


"Com seu gesto, ele esvaziou a atitude discriminatória da torcida naquele momento. Como uma resposta, para o momento, foi perfeita. É uma forma que você tem de utilizar o 'bom humor', entre aspas, para ridicularizar a atitude racista", disse.

Nova campanha
Ao G1, a ministra também adiantou que está em discussão no governo uma campanha antirracismo a ser lançada na Copa. Embora não tenha detalhado o formato e mote, disse que a mensagem deve reforçar o valor da diversidade.

"Para nós da Seppir o importante é o fato de que a diversidade racial tem sido um elemento determinante da excelência do futebol, em qualquer canto em que ele seja jogado e principalmente aqui no Brasil. Essa ideia de que a diversidade produz excelêcia no futebol tem que ser espalhada para o conjunto da sociedade e para qualquer outro setor de atividade", disse.

A diversidade racial tem sido um elemento determinante da excelência do futebol [...] Essa ideia tem que ser espalhada para o conjunto da sociedade e para qualquer outro setor de atividade"

Outra ação que pode ser lançada ainda antes da Copa, segundo Bairros, é um serviço de "disque-denúncia", semelhante ao Disque 100, para relatar abusos a direitos humanos, especificamente para combate a atos de racismo.

Segundo a ministra, a Seppir já entrou em contato com órgãos nos estados, como defensorias, Ministério Público, delegacias e ONGs para formar uma rede de atendimento. A ideia é que a partir de um ato discriminatório, a pessoa vítima de racismo seja orientada a acionar uma dessas entidades para denunciar o crime.

Fonte: G1.

Xingar de macaco: uma pequena história de uma ideia racista

“Para entender o poder e o escopo do xingamento de macaco, precisamos de uma dose de história”. É o que pensa James Bradley, professor de história da Medicina/Ciência da Vida na Universidade de Melbourne, autor do texto abaixo, traduzido pelo professor da Uneafro-Brasil e doutorando em literatura da USP, Tomaz Amorim Izabel.

Nas últimas 24 horas muito foi dito e escrito sobre Daniel, Neymar, bananas, macacos e racismo. Não sou um acadêmico e tampouco jornalista. Não passo de um mero professor de rede pública estadual de São Paulo e mais um militante do movimento negro. O que formulei sobre o assunto nada mais é que fruto do acúmulo das lutas concretas. Do ensinamento que recebi d@s lutador@s mais velh@s e o que aprendi com meus iguais. E as afirmações são simples:

O racismo é algo sério, não podemos brincar com ele;

Daniel promoveu uma reação interessante, deu visibilidade ao debate sobre racismo, mas a forma e o conteúdo de seu “protesto” não nos serve. Tampouco a reação de Neymar, que agora sabemos, não partiu dele;

A maioria dos atletas, principalmente no futebol, são alienados e não tem opinião qualificada sobre temas relevantes para a sociedade. E isso não é preconceito ou generalização, mas sim uma constatação mais uma vez comprovada. Só falam bobagens e no máximo se prestam a assistencialismos em seus territórios de origem, vide Pelé, Zico, Ronaldo, Cafú entre outros;

Comparar negros a macacos é racismo e não podemos admitir; Fortalecer a ideia de que devemos absorver ofensas racistas é um desrespeito à população negra, além de um golpe ideológico: “Sofram calados, não façam escândalo, levem na esportiva”; 

Não somos todos macacos! Somos negr@s e merecemos respeito;

A campanha de Luciano Huck e Neymar é racista. Suas camisetas e seu vídeo são racistas. E ganhar dinheiro com uma campanha racista é canalhice, simples assim.

Ou, daqui pra frente, será tranquilo para você levar bananadas por aí e fingir que não se sentiu ofendido?

A ordem é rir da situação para desmobilizar o agressor, tal qual nos orienta papai e mamãe: “Filh@, quando te chamarem de macaca, leva na brincadeira que é melhor! Se você se irritar, aí é que o o apelido pega!”. Pois o que precisamos é desobedecer essa orientação e denunciar a agressão.

Para qualificar o debate, segue abaixo o texto do professor Bradley.

Seguimos!


Por James Bradley – do The Conversation
Professor de História da Medicina/Ciência da Vida na Universidade de Melbourne

A maioria de nós sabe que chamar alguém de macaco é racismo, mas poucos de nós sabem por que macacos são associados na imaginação europeia com indígenas e, principalmente, afrodescendentes.

Para entender o poder e o escopo do xingamento de macaco, precisamos de uma dose de história. Quando eu era aluno de graduação na universidade, eu aprendi sobre racismo e colonialismo, particularmente sobre a influência de Charles Darwin (1809-1882), dos quais as ideias pareciam fazer o racismo ainda pior.

Na verdade, isto é fácil de inferir. A teoria da seleção natural de Darwin (1859) mostrou que os ancestrais mais próximos dos seres humanos foram os grandes macacos. E a ideia de que os homo sapiens descendiam de macacos se tornou rapidamente parte do teatro da evolução. O próprio Darwin foi muitas vezes representado como meio-homem, meio-macaco.

Além disso, enquanto a maior parte dos evolucionistas acreditava que todas as raças humanas descendiam do mesmo grupo, eles também notaram que a migração e a seleção natural e sexual tinham criado variedades humanas que – aos seus olhos – pareciam superiores a africanos ou aborígenes.

Ambos estes grupos tardios foram frequentemente representados como sendo os mais próximos evolutivamente dos humanos originais e, portanto, dos macacos.

O papel do pensamento evolucionista

No começo do século XX, o aumento da popularidade da genética mendeliana (nomeada em referência a Gregor Johann Mendel, 1822-1884) não fez nada para destituir esta maneira de pensar. Se é que ainda não piorou as coisas.

Ela sugeria que as raças haviam se tornado raças separadas e que os africanos, em particular, estavam muito mais próximos em termos evolutivos dos grandes macacos do que estavam, digamos, os europeus.

E ainda assim, durante este mesmo período, sempre houve uma corrente da ciência evolutiva que rejeitou este modelo. Ela enfatizava as profundas semelhanças entre diferentes raças e que as diferenças de comportamento eram produto da cultura e não da biologia.

Os horrores do Nazismo deveram muito ao namoro da ciência com o racismo biológico. O genocídio de Adolf Hitler, apoiado de bom grado por cientistas e médicos alemães, mostrou onde o mau uso da ciência pode levar.

Isto deixou o racismo científico nas mãos de grupos de extrema direita que só estavam interessados em ignorar as descobertas da biologia evolutiva do pós-guerra em benefício de suas variantes pré-guerra.

Claramente o pensamento evolucionista teve algo a ver com a longevidade do xingamento de macaco. Mas a associação europeia entre macacos e africanos tem um pedigree cultural e científico muito mais extenso.

Pego no meio

No século 18, uma nova maneira de pensar sobre as espécies emergiu. Anteriormente, a vasta maioria dos europeus acreditava que Deus havia criado as espécies (incluindo o homem), e que estas espécies eram imutáveis.

Muitos acreditavam na unidade das espécies humanas, mas alguns acreditavam que Deus havia criado espécies humanas separadas. Neste esquema, os europeus brancos eram descritos como próximos aos anjos, enquanto africanos negros e aborígenes estavam mais próximos aos macacos.

Muitos cientistas do século XVIII tentaram atacar o modelo criacionista. Mas, ao fazê-lo, acabaram dando mais poder para o xingamento de macaco.

No meio do século XVIII, o grande naturalista francês, matemático e cosmólogo Comte de Buffon (Georges-Luis Leclerc, 1707-1788) deu continuidade à ideia de que todas as espécies de animais descendiam de um pequeno número de tipos gerados espontaneamente.

Espécies felinas, por exemplo, supostamente descendiam de um único ancestral gato. Ao migrarem do seu ponto de geração espontânea, os gatos degeneraram em diferentes espécies sob influência do clima.

Em 1770, o cientista holandês Petrus Camper (1722-1789) pegou o modelo de Buffon e aplicou-o ao homem. Para Camper, o homem original era o grego antigo. À medida que este homem original se moveu do seu ponto de criação ao redor do mundo, ele também degenerou sob influência do clima.

Na visão de Camper, macacos, símios e orangotangos, eram todos versões degeneradas do homem original. Então, em 1809, o ancestral intelectual de Darwin, Lamarck (Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck, 1744-1829) propôs um modelo de evolução que via todos os organismos como descendentes de um único ponto de criação espontânea.

Larvas evoluíram em peixes, peixes em mamíferos e mamíferos em homens. Isto aconteceu não através da seleção darwinista, mas através de uma força vital interna que levava organismos simples a se tornarem mais complexos, trabalhando em combinação com a influência do meio ambiente.

Deste ponto de vista, humanos não compartilhavam um ancestral comum com macacos; eles eram descendentes diretos deles. E africanos então se tornaram a ligação entre macacos e europeus. A imagem popular comumente associada com a evolução darwinista da transformação de estágios do macaco ao homem deveria ser propriamente chamada de lamarckiana.

O poder do racismo

Cada uma dessas maneiras de pensar o relacionamento entre humanos e macacos reforçou a conexão feita por europeus entre africanos e macacos. E fazendo parecer que pessoas de origem não-europeia eram mais como macacos do que como humanos, estas diferentes teorias foram usadas para justificar a escravidão nas fazendas das Américas e o colonialismo no resto do mundo.

Todas estas diferentes teorias científicas e religiosas trabalharam na mesma direção: para reforçar o direito europeu de controlar grandes porções do mundo.

O xingamento de macaco, na verdade, tem a ver com a maneira com a qual os europeus, eles mesmos, se diferenciaram, biológica e culturalmente, em um esforço de manter superioridade sobre outros povos.

A coisa importante a se lembrar é que aqueles “outros” povos estão muito mais cientes daquela história do que os europeus brancos. Invocar a imagem de um macaco é utilizar o poder que levou à desapropriação indígena e a outros legados do colonialismo.

Claramente, o sistema educacional não faz o bastante para nos educar sobre ciência ou história da humanidade. Por que se fizesse, nós veríamos o desaparecimento do xingamento de macaco.


Ideia de desenvolvimento nega identidade dos povos, diz Mia Couto na bienal



A utopia do desenvolvimento sustentável foi o tema do debate que reuniu cientistas, escritores e até presidente da República na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, hoje (16), em Brasília. O escritor moçambicano Mia Couto criticou a ideia de que a natureza pode ser “controlada, administrada”. Para ele, é preciso localizar as razões pelas quais o mundo enfrenta, hoje, uma crise ambiental profunda: “Esse sistema não está mal porque não anda bem. Está mal porque produz miséria, desigualdade, causa ruptura em modos que vida que aí, sim, poderiam ser sustentáveis”.

Crítico da ideia de desenvolvimento sustentável, o escritor e também biólogo avalia que a ideia de desenvolver traz uma negação. “Estamos retirando o núcleo central, o ambiente. E essa negação é a negação da identidade cultural dos povos que foram expropriados”. Povos cujos modos de vida poderiam inspirar uma relação do homem com a natureza, que seja baseada no respeito e não na compreensão “de que a natureza pode ser vista como um recurso natural”, segundo Mia Couto.

Integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, ligado às Organizações das Nações Unidas (ONU), o cientista Carlos Nobre defendeu a ideia de desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade, para ele, deixaria de ser um adjetivo do desenvolvimento para transformar-se em substantivo que explica a relação com o mundo ou desejos, como felicidade, equidade e justiça. Ele destacou a gravidade das mudanças climáticas e os impactos ambientais decorrentes delas: “Os riscos que estamos colocando para o planeta, nas próximas décadas, séculos e milênios, são enormes. Nós estamos conduzindo a biologia do planeta à sexta grande extinção. Nós estamos produzindo, por ações humanas, a extinção de até 40% das espécies”.

O presidente de Gana, Dramani Mahama, que é historiador e especialista em uso de tecnologia para a agricultura, alertou para a necessária mudança no comportamento dos seres humanos. “Se não criarmos uma teoria que nos ajude a sustentar a raça humana no mundo e continuarmos com essas taxas de consumo, o que vai acontecer com a raça humana?”, questionou, ao destacar que a população despeja diariamente a mesma quantidade de alimento que consome, e que, por outro lado, falta alimento a parte da população. “Nós precisamos aprender a existir com todas as espécies em nosso planeta, que é o único que temos. E nós só vamos aprender se mudarmos nosso conceito de felicidade e de bem-estar”, sentenciou.

A mudança de paradigma, que conduza a outra relação com a natureza, para os debatedores, deve começar desde já. A tecnologia e a inteligência humana devem ser usadas como ferramentas para a superação da crise atual, e a literatura deve ser capaz de despertar sensibilidades e reflexões. Para a Agência Brasil, Mia Couto disse que a literatura pode, desde já, "mostrar que o ambiente não é assim como nós o arrumamos; mas é tudo; não está fora de nós; está dentro de nós. A literatura pode fazer, e deve fazer essa denúncia daquilo que é uma espécie de fabricação permanente da desigualdade e da miséria”, afirmou. Crítico da situação atual, o escritor alertou: “Nós estamos falando de uma situação que poderá ser catastrófica. Mas para dois terços da humanidade, essa catástrofe já está aqui e vem por causa da fome, da guerra”.

Fonte: Agência Brasil

Vítimas de racismo reconhecem avanço, mas querem punição maior ao agressor

"Os agressores precisam ter o entendimento do respeito ao próximo, mas em conjunto, têm que pagar pelo crime que cometeram", Kim Fortunato, contador

Segundo estudo da UnB, 95% de 12 mil casos analisados foram classificados como injúria racial, com pena muito mais branda

Descaso e exclusão são as palavras encontradas pelas vítimas de racismo para definir a incerteza que vivem depois de realizar a denúncia. Elas reconhecem que houve um grande avanço contra o preconceito, mas o processo até chegar a uma punição é longo e, em muitos casos, não satisfatório. Para especialistas, a questão é subjetiva e muito ainda precisa ser feito no país para quebrar a impunidade nos casos de racismo. As ocorrências de Brasília não são diferentes daquelas que tomam os noticiários internacionais. Eles lembram os recentes episódios no mundo do esporte, como o do jogador de futebol Daniel Alves e o do time de basquete da NBA Los Angeles Clippers (leia mais no caderno de Esportes, capa e página 2). A maior dificuldade é reconhecer o crime.

“Foi uma situação constrangedora e desagradável. Eu entrava para trabalhar (na padaria) e tinha a sensação de que aquela mulher (a qual a agrediu de forma racista durante um atendimento) estava ao meu lado. Não suportei”, relembra a nutricionista Elaine da Silva, 32 anos. Para priorizar sua liberdade e privacidade, a nutricionista, então funcionária de uma padaria na Asa Sul, optou por trocar de emprego. O fato ocorreu em junho de 2013, quando uma cliente do estabelecimento, depois de discordar do preço de um produto, reclamou com o gerente Antônio Nilberto Castro Santos, 28 anos, com xingamentos e atitudes racistas. Elaine tentou ajudar, mas também foi alvo da mulher. O caso foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia e está parado no Ministério Público aguardando um laudo do Instituto Médico Legal (IML), pois a defesa da agressora alegou que a cliente sofre de insanidade mental.

O colega Antônio também decidiu buscar um novo emprego. “Foi algo que me marcou muito. Saí de lá para esquecer aquela situação”, relata Antônio. Ele destaca a necessidade de enquadrar as pessoas pelo crime de racismo e não por injúria racial (leia O que diz a lei). A questão também é levantada pelo professor Ivair Augusto Alves dos Santos, coordenador do Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília (UnB). Entre 2000 e 2007, Santos analisou 12 mil casos de discriminação registrados em sentenças judiciais, despachos, pareceres e inquéritos policiais coletados em tribunais de Justiça de todo o país para sua tese de pós-graduação em sociologia da UnB. Santos identificou que 95% dos processos judiciais acabam em injúria e não em racismo. 


"Foi uma situação constrangedora e desagradável. Eu entrava para trabalhar e tinha a sensação de que aquela mulher estava ao meu lado. Não suportei" Elaine da Silva, nutricionista e vítima de injúria, ao lado do colega Nilberto Castro


Projeto de Lei das Cotas é aprovado em comissão do Senado


Projeto de Lei da Câmara reserva aos pretos e pardos vinte por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos federais

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado (CDH) aprovou hoje (29/04), o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 29/2014, que reserva aos negros “vinte por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União”.
Agora, a proposta segue para análise da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), em seguida para o plenário do Senado. Se aprovado, o PLC 29/2014 seguirá para sanção da presidenta Dilma Rousseff. A matéria foi aprovada pelo plenário da Câmara dos Deputados no dia 26 de março, por 314 votos a 36 e seis abstenções.

A proposta foi encaminhada ao Legislativo pela presidenta Dilma Rousseff em 05/11/2013, em regime de urgência, na ocasião da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (III Conapir), ocorrida em Brasília-DF.

De acordo com a proposta aprovada, serão abrangidos os candidatos que se autodeclararem pretos ou pardos no momento da inscrição no concurso público, conforme as categorias definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Haverá cota racial sempre que o número de vagas oferecidas no concurso público for igual ou superior a três.

O projeto também prevê punições, caso seja constatada falsidade na declaração do candidato, indo da eliminação do concurso até a sujeição de anulação da admissão ao serviço ou emprego público do candidato que fraudar os dados.
O PLC estabelece, ainda, o prazo de dez anos para validade da medida proposta e prevê que a reserva não se aplica aos concursos cujos editais tenham sido publicados antes da vigência da lei.

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Com informações do Senado Federal

Fonte: Seppir.

terça-feira, 29 de abril de 2014

#Somostodosmacacos reforça estereótipos, diz Secretário da Igualdade Racial



Para Viridiano Custódio, Neymar agiu de forma emocional ao criar campanha com termo rechaçado por movimento negro

A campanha #somostodosmacacos reforça estereótipo que o movimento negro brasileiro tenta combater há anos. A opinião é do titular da Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial do DF (Sepir-DF), Viridiano Custódio. Depois que o jogador Daniel Alves comeu uma banana atirada por torcedores em campo na Espanha, a campanha ganhou a rede e ganhou adesão de celebridades.

Custódio considerou que ao criar a campanha nas redes sociais, o jogador Neymar agiu de forma emocional e impensada. O secretário reiterou que o movimento negro é contra esterótipos que associem figuras humanas a ancestrais biológicos primatas. "Mesmo sabendo que todos somos primatas, nós devemos pensar uma outra forma de combater o racismo sem reforçar esse estereótipo segundo o qual muitos negros são tratados como macacos", disse. 

Assista:


Racismo no Esporte
Para Custódio, o racismo no esporte revela o preconceito vivido pela sociedade de forma geral -a questão, histórica, remonta ao eurocentrismo e a dominação do continente africano. Segundo ele, o combate ao racismo passa pelas esferas da educação, políticas públicas e campanhas como "Copa sem racismo", lançado pelo Governo do DF em abril.

Somos Lupita e somos lindas


Por Luciana Soares,
Quando a atriz estadunidense Gwyneth Paltrow foi considerada a mulher mais bonita do Planeta, no ano 2013, pela Revista People, não vi nenhum comentário do tipo “há mulheres brancas mais bonitas que ela”.

Particularmente, considero uma perversidade, machista e contraproducente, quaisquer tipos de rotulagens ou hierarquização de mulheres. Contudo, comemorei, comemoro e comemorarei a visibilidade alcançada por Lupita Nyong’o.

Celebro este fato, mesmo que pontual e efêmero, pelo simbolismo histórico que contém, pois autoriza – e impõe- a existência da beleza da mulher negra, no mundo da beleza.

A representatividade é fundamental para a construção da identidade étnico-racial e da autoestima. Quando uma grande marca mundial de cosméticos femininos estampar, em revistas, outdoors, anúncios e comerciais, o rosto de uma negra isso dirá, para milhões de outras mulheres, que somos como Lupita. E somos lindas.


Enquanto negra que sou, considero este acontecimento altamente importante e significativo. Sobretudo, por ser brasileira e viver em um país que, no ano de 2009, tinha sua população constituída por um quarto de negras, o correspondente a 50 milhões de mulheres, segundo dados do IPEA, disponíveis no estudo Dossiê Mulheres Negras, lançado em dezembro de 2013.

Mesmo sendo a maioria, relativa e absoluta, na população feminina, nunca, nenhuma negra foi apresentadora de programas infantis ou de auditório, na TV brasileira. Nenhuma destas 50 milhões de mulheres negras, neste país, teve sua beleza reconhecida nas passarelas como uma importante modelo, por exemplo.

Se pensarmos em ocupação de espaços de poder, verificamos que apenas uma mulher negra foi governadora, nesta grande nação. E, mesmo assim, interinamente, por dois anos. Nem mesmo na região norte, onde somamos 74,7% da população feminina, ou no nordeste, onde somos 69,9%, tivemos uma mandatária negra.

Em âmbito nacional, quantas negras ocuparam cadeiras no Senado ou no Supremo Tribunal Federal, nesses 126 anos de República?

A beleza de um quarto da população brasileira nunca foi considerada: nem como padrão e, menos ainda, como beleza. Ao contrário, a estereotipia tupiniquim é absolutamente europeia, ao estilo Xuxa, Gisele Bündchen, Angélica, Ana Hickmann.

A herança socioeconômica que moldou nossos padrões culturais e valorativos relegou às negras a condição de cidadãs de segunda classe: sustentam sozinhas 51,1% das famílias chefiadas por mulheres; recebem apenas 51% da remuneração percebidas pelas brancas e a renda familiar, em 69% desses casos, é inferior ao salário mínimo.

Mais que isso, sentenciou a mulher negra a uma subumanidade: à coisificação impiedosa, à erotização, à submissão, à solidão. Retirou, de nós, o direito à afetividade e nos destinou apenas ao sexo. Nossa beleza não é valorizada, nossas conquistas são inferiorizadas, nossos cabelos são duros, nossos narizes e bocas, feios. Quando bonitas, “nem parecemos negras”.

A beleza negra de Lupita nos diz, a todas nós, mulheres negras, que somos bonitas. Que nossos cabelos, rostos e corpos são bonitos.

Essa formação imagética de nossa autoestima é determinante para a construção identitária de nossas crianças, jovens e idosas. Mas não somente para nós, negras. Diz, ao conjunto da humanidade, que há diversidade e que é preciso haver igualdade.

Minha referência de negritude, quando adolescente, foi o Michel Jackson, só depois conheci a Glória Maria. Minha sobrinha Sophia, que tem quatro anos, crescerá entendendo ser como Lupita: Diva e linda.

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*Luciana Soares é militante do feminismo negro. Estudou Direito, graduou-se Gestora Pública. Atualmente, é estudante cotista da Universidade de Brasília – UNB e pós-graduanda em especialização de Gerência de Projetos, pelo IESB.


Fonte: Geledes.

Não se enganem!!


Uma alma iluminada bem que tentou salvar a patifaria que foi a “homenagem” que o Esquenta tentou fazer para Douglas GD, dizendo as sábias palavras “nada é mais perigoso do que ser jovem, NEGRO e pobre nesse país” e apresentando dados sobre o genocídio da juventude negra no Brasil. Mas pelo visto nossa querida Regina tem dificuldades com interpretação de texto e mesmo depois desse vislumbre de bom senso por parte da produção, ainda não entendeu que colocar mocinhas louras e ricas, chorosas segurando cartazes “eu não mereço ser assassinada” e cantando pela paz não significa nada, não diz nada para nós que somos assassinados, silenciados e invisibilizados diariamente.
Mas diz sobre eles, diz sobre os objetivos e interesses desse tipo de espaço que estão nos oferecendo nas grandes mídias. Uma moldura negra para a festa branca, nossa dor e o sangue de nossos jovens servindo para justificar o medo dos senhores e incentivar sua busca desesperada pela própria segurança, foi isso que vi naquele espetáculo de sensacionalismo e oportunismo.

Pouco me importa o horror dessa elite estúpida diante da violência, pouco me importa se eles ficaram tristes com a história do Douglas, essa é a história de todos nós que estamos da ponte pra cá e essa história foi escrita por eles com o nosso sangue. Se querem ajudar, mostrem, julguem e condenem os culpados, assumam também sua parcela de culpa em tudo isso, cada vez que reproduzem o discurso do mérito; que chamam violência policial de justiça e tratam a pobreza e os pobres como meros objetos para sua diversão…

Quem não concorda comigo, me responda: em que pode nos interessar as falas sobre a opressão e o genocídio da juventude negra ou as lágrimas de Carolina Dickman, Fernanda Torres e Leandra Leal? Que contribuição as imbecilidades pseudofilosóficas de Pedro Bial podem trazer, seja para a luta contra o racismo seja para confortar a mãe que sofre a perda de seu filho? E fechamos com chave de ouro com os palpites de Fausto Silva, aquele mesmo que certamente chamaria o cabelo de Douglas de vassoura de bruxa. Todos podem nos dizer, de dentro de seus condomínios e carros de luxo, como sofremos, se sofremos, o que é o racismo e a violência, é isso mesmo?!?!?

Eram os nossos que deveriam estar ali. Onde estão os intelectuais e ativistas negros para falar sobre o genocídio de seus jovens?? Onde estão as referências que inspiraram o menino Douglas para começar a dançar?? Onde está o espaço privilegiado para o desabafo da mãe, a presença dos amigos e a vida do jovem antes e fora do Esquenta?!?!? Nada disso estava ali, nós não estamos, nem nunca estivemos ali. Não se enganem!!!!Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.

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Mariana Santos de Assis é formada em letras e mestranda em Linguística Aplicada na Unicamp. Escreve no blog conversaafiadaca.blogspot.com.br

Contra o racismo nada de bananas, nada de macacos, por favor!

A esquerda, foto de Neymar em apoio a Daniel Alves; 
A direita foto de Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906.

A foto da esquerda todo mundo viu. É o craque Neymar com seu filho no colo e duas bananas, em apoio a Daniel Alves e em repulsa ao racismo no mundo do futebol.

Já a foto a esquerda, é do pigmeu Ota Benga, que ficou em exibição junto a macacos no zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do quê os cientistas da época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A História de Ota serviu para inflamar crenças sobre a supremacia racial ariana defendida por Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo”.

A comparação entre negros e macacos é racista em sua essência. No entanto muitos não compreendem a gravidade da utilização da figura do macaco como uma ofensa, um insulto aos negros.

Encontrei essa forte história num artigo sensacional que li dia desses, e que também trazia reflexões de James Bradley, professor de História da Medicina na Universidade de Melbourne, na Austrália. Ele escreveu um texto com o título “O macaco como insulto: uma curta história de uma ideia racista”. Termina o artigo dizendo que “O sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do ser humano, porque se o fizesse, nós viveríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto.”

Não, querido Neymar. Não somos todos macacos. Ao menos não para efeito de fazer uso dessa expressão ou ideia como ferramenta de combate ao racismo.

Mas é bom separar: Uma coisa é a reação de Daniel Alves ao comer a banana jogada ao campo, num evidente e corriqueiro ato racista por parte da torcida; outra coisa é a campanha de apoio à Daniel e de denúncia ao racismo, promovida por Neymar.

No Brasil, a maioria dos jogadores de futebol advém de camadas mais pobres. Embora isso esteja mudando – porque o futebol mudou, ainda é assim. Dentre estes, a maioria dos que atingem grande sucesso são negros. Por buscarem o sonho de vencer na carreira desde cedo, pouco estudam. Os “fora de série”, são descobertos cada vez mais cedo e depois de alçados à condição de estrelas, vivem um mundo a parte, numa bolha. Poucos foram ou são aqueles que conseguem combinar genialidade esportiva e alguma coisa na cabeça. E quando o assunto é racismo, a tendência é piorar.

E Daniel comeu a banana! Ironia? Forma de protesto? Inteligência? Ora, ele mesmo respondeu na entrevista seguida ao jogo:

“Tem que ser assim! Não vamos mudar. Há 11 anos convivo com a mesma coisa na Espanha. Temos que rir desses retardados.”

É uma postura. Não há o que interpretar. Ele elaborou uma reação objetiva ao racismo: Vamos ignorar e rir!

Há um provérbio africano que diz: “Cada um vê o sol do meio dia a partir da janela de sua casa”. Do lugar de onde Daniel fala, do estrelato esportivo, dos ganhos milionários, da vida feita na Europa, da titularidade na seleção brasileira de futebol, para ele, isso é o melhor – e mais confortável, a se fazer: Ignorar e rir. Vamos fazer piada! Vamos olhar para esses idiotas racistas e dizer: sou rico, seu babaca! Sou famoso! Tenho 5 Ferraris, idiota! Pode jogar bananas a vontade!

O racismo os incomoda. E os atinge. Mas de que maneira? Afinal, são ricos! E há quem diga que “enriqueceu, tá resolvido” ou que “problema é de classe”! O elemento econômico suaviza o efeito do racismo, mas não o anula. Nesse sentido, os racistas e as bananas prestam um serviço: Lembram a esses meninos que eles são negros e que o dinheiro e a fama não os tornam brancos!

Daniel Alves, Neymar, Dante, Balotelli e outros tantos jogadores de alto nível e salários pouca chance terão de ser confundidos com um assaltante e de ficar presos alguns dias como no caso do ator Vinícius; pouco provavelmente serão desaparecidos, depois de torturados e mortos, como foi Amarildo; nada indica que possam ter seus corpos arrastados por um carro da polícia como foi Cláudia ou ainda, não terão que correr da polícia e acabar sem vida com seus corpos jogados em uma creche qualquer. Apesar das bananas, dificilmente serão tratados como animais, ao buscarem vida digna como refugiados em algum país cordial, de franca democracia racial, assim como as centenas de Haitianos o fazem no Acre e em São Paulo.

O racismo não os atinge dessa maneira. Mas os atinge. E sua reação é proporcional. Cabe a nós dizer que sua reação não nos serve! Não será possível para nós, negras e negros brasileiros e de todo o mundo, que não tivemos o talento (ou sorte?) para o estrelato, comer a banana de dinamite, ou chupar as balas dos fuzis, ou descascar a bainha das facas. Cabe a nós parafrasear Daniel, na invertida: “Não tem que ser assim! Nós precisamos mudar! Convivemos há 500 anos com a mesma coisa no Brasil. Temos que acabar com esses racistas retardados, especialmente os de farda e gravata”.

Quanto a Neymar, ele é bom de bola. E como quase todo gênio da bola, superacumula inteligência na ponta dos pés. Pousa com seu filho louro, sem saber que por ser louro, mesmo que se pendure num cacho de bananas, jamais será chamado de macaco. A ofensa, nesse caso, não fará sentido. Mas pensemos: Sua maneira de rechaçar o racismo foi uma jogada de marketing ou apenas boa vontade? Seja o que for, não nos serve.

Sou negro, nascido em um país onde a violência e a pobreza são pressupostos para a vida da maior parte da população, que é negra. Querido Neymar – mas não: Luciano Hulk, Angélica, Reinaldo Azevedo, Aécio Neves, Dilma Rousseff, artistas e imprensa que de maneira geral exaltou o “devorar da banana” e agora compartilham fotos empunhando a saborosa fruta, neste país, assim como em todo o mundo, a comparação de uma pessoa negra a um macaco é algo culturalmente ofensivo.

Eu como negro, não admito. Banana não é arma e tampouco serve como símbolo de luta contra o racismo. Ao contrário, o reafirma na medida em que relaciona o alvo a um macaco e principalmente na medida em que simplifica, desqualifica e pior, humoriza o debate sobre racismo no Brasil e no mundo.

O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.

Eu adoro banana. Aqui em casa nunca falta. E acho os macacos bichos incríveis, inteligentes e fortes. Adoro o filme Planeta dos Macacos e sempre que assisto, especialmente o primeiro, imagino o quanto os seres humanos merecem castigo parecido. Viemos deles e a história da evolução da espécie é linda. Mas se é para associar a origens, porque não dizer que #SomosTodosNegros ? Porque não dizer #SomosTodosDeÁfrica ? Porque não lembrar que é de África que viemos, todos e de todas as cores? E que por isso o racismo, em todas as suas formas, é uma estupidez incompatível com a própria evolução humana! E se somos, por que nos tratamos assim?

Mas não. E seguem vocês, “olhando pra cá, curiosos, é lógico. Não, não é não, não é o zoológico”.

Portanto, nada de bananas, nada de macacos, por favor!


Sobre macacos, bananas, Daniel Alves e Neymar: Não somos macacos, porra!

Por: Higor Faria,
No último domingo (27/04), durante o jogo entre Barcelona e Villarreal, jogaram uma banana no campo de futebol. Em uma atitude totalmente irônica, o jogador negro Daniel Alves a comeu.

Não é de hoje que negros e negras são chamados de macacos e que a banana se tornou, dentro ou fora dos campos, um símbolo desse tipo de agressão racial. Não é de hoje também negros jogadores de futebol são vítimas do racismo dos torcedores, dos patrocinadores, da FIFA e dos árbitros.

Daniel Alves sofreu uma agressão. Reagiu. Contudo, a atitude do jogador não neutralizou a violência racial a qual ele foi exposto, nem tirou a necessidade de se punir os agressores. O jogador sentiu aquilo que todos os negros e negras passam diariamente no esporte ou fora dele. Ser retirado da sua humanidade e colocado em condição de animal irracional é artifício secular do racismo reproduzido até hoje. A diferença no caso de Daniel é a sua visibilidade e o alcance da sua reação — diga-se de passagem: melhor que muito discurso por aí.

Todo o apoio a Daniel Alves.

A atitude de Daniel não faz dele um macaco. Não faz de nenhum negro ou negra macacos. Não faz de ninguém macaco. Neymar parece que não entendeu.

Num surto heroico anti-racista, Neymar, que até ontem não se identificava como negro, colocou uma foto no instagram dele acompanhado do filho, segurando cada um a sua respectiva banana, dizendo “Tomaaaaa bando de racistas. #Somostodosmacacos e daí?”. Em pouco tempo, famosos acompanharam o desserviço em forma de indignação do rapaz.

Toda a repulsa à campanha que Neymar emplacou.

Se Neymar começou a reconhecer e a assumir sua negritude agora, não se sabe. O que se tem é um homem negro com visibilidade dizendo que o discurso racista do opressor está certo e que somos macacos. Todo mundo deveria saber que ninguém é macaco — o problema é que alguns de nós, pretos e pretas, fomos e somos historicamente tratados como animais.

Neymar tá empurrando para o lixo anos e anos de luta anti-racista. E nem acho que ele esteja ligando muito para a merda que fez. O racismo nos campos de futebol sempre existiu e agora têm ganhado bastante espaço na mídia. Os veículos até então não tinham encontrado um rosto que estampasse a luta contra esse tipo de discriminação sem afetar seus interesses. Neymar percebeu a oportunidade, agarrou como a banana na foto e provavelmente será esse rosto: mais visibilidade para o afroconveniente de ouro.


E a merda não para por aí. Faça a pesquisa nas redes sociais com #Somostodosmacacos e você vai perceber a quantidade de fotos de pessoas brancas com suas respectivas bananas como se estivessem sob a ameaça de sofrer um ataque racista. Não faz sentido! Afinal, nenhuma banana, real ou não, foi jogada na cara delas.

Neymar não fala pela comunidade negra.

Eu não sou macaco.

Nenhum negro ou negra é macaco.

Ninguém é macaco.

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Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no https://medium.com/@higorfaria

Fonte: Medium

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Os haitianos são o problema? Ou o problema é a falta de uma política migratória que respeite os imigrantes?

Seria ingenuidade imaginar que um país estruturalmente racista como o Brasil, que precariza de maneira deliberada serviços públicos destinados a sua própria população – de maioria negra, tivesse uma postura descontaminada desse racismo com as populações negras e indígenas de outros países, ainda mais na condição de refugiados.

É assim com a comunidade de origem indígena, bolivianos, peruanos e paraguaios e é assim também com os negros de origem dos países da áfrica e agora mais visivelmente com os haitianos. Cabe a nós denunciar e exigir tratamento digno e integração humanizada.

Com a palavra, as organizações que há anos se dedicam a garantia dos direitos humanos dessas populações em São Paulo e no Brasil.


O CDHIC – Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante, juntamente com o Grito dos Excluídos Continental, organizações que integram o Fórum Social Mundial de Migrações/FSMM, tornam pública sua opinião sobre a recém-chegada, em massa, de haitianos em São Paulo, “enviados” pelo Governo do Acre devido o fechamento do abrigo em Brasiléia.

Nos últimos meses surgiram várias notícias na mídia corporativa sobre a entrada de imigrantes haitianos no Brasil, apontando a sua situação como um problema, uma ameaça, uma calamidade pública, um caos, uma invasão e até mesmo com extremo preconceito com sensacionalismo de baixo nível, chegando a afirmar que os haitianos difundem doenças em nosso país.

As manchetes de grandes jornais estampam desinformação, racismo e criminalizam os imigrantes: 



Organizações de defesa dos direitos também se manifestaram, trazendo a público o outro lado, outras visões, abordando inclusive indefinição brasileiras quanto a sua política para imigrantes. 


O envio de ônibus com destino a São Paulo, lotados de haitianos, com recursos do Governo do Acre trouxe à tona a desarticulação entre os governos estaduais, federal e municipal. Embora haja uma política municipal para imigrantes da Prefeitura de SP pautada pela Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, a falta de comunicação entre os entes federativos e a omissão/lentidão tanto do Governo do Acre como do Governo Federal em enfrentar seriamente a questão traz consequências negativas. O esforço somente da Prefeitura é insuficiente, pois questões práticas como emissão da Carteira de Trabalho e revisão dos procedimentos do visto humanitário ou refúgio são da alçada federal.

O pano de fundo da questão não é só a quantidade de haitianos ou a emergência assistencial aos mesmos e suas famílias. Estas são questões importantes, mas que devem ser entendidas num contexto maior: falta ao Estado Brasileiro uma redefinição sobre sua política migratória. É inadmissível que prevaleça uma Lei Federal em vigor (Estatuto do Estrangeiro) de 34 anos atrás, formulada pelo regime ditatorial civil-militar, totalmente incompatível com a Constituição Federal. Por que demora tanto o governo em apresentar e aprovar uma nova lei federal de migrações?

Ao invés de encarar a situação dos haitianos como um problema ou uma crise, o Estado Brasileiro deveria sim imbuir-se da obrigação de promover o acesso dos imigrantes a todo o conjunto de direitos garantidos aos cidadãos que aqui vivem, como saúde, trabalho decente, educação e moradia, entre tantos. Mas isso não se faz sem uma nova Política Nacional de Migração baseada no respeito aos direitos humanos. Por que o Governo não propõe uma política descentralizada e com distribuição de responsabilidades entre Estados e Municípios?

Mas, com raras exceções, o que vemos pelos depoimentos de agentes públicos é uma disputa de (ir)responsabilidades, ou um jogo de depoimentos na mídia, com caráter eleitoral, que em nada contribui para a questão.

O assunto não permite tais posturas. Estamos falando de pessoas oriundas de um dos países mais pobres do planeta, devastado por um terremoto em 2010 e que, por sua condição de imigrantes, negros e que falam outro idioma, enfrentam também dificuldades e discriminação racial existente em nosso país.

Resta perguntar mais uma vez: qual o perfil de imigrante desejado pelo Brasil? No mesmo período em que chegam os haitianos, outros grupos de estrangeiros com perfil eurocêntrico e branco por aqui desembarcaram em número muito maior e não são chamados de invasores ou problema.

Não cabe aqui criminalização da imigração, ou uma disputa judicial entre os governos estaduais de partidos opostos, ou a ironia do Secretário de Justiça do Acre, Nilson Mourão que disse “Vou passar a dar uma garrafa de água para cada imigrante, porque sei que há falta de água em São Paulo”. Perante semelhantes depoimentos e fatos se faz urgente uma manifestação e retratação que exigimos por parte dos gestores públicos baseado no “respeito dos direitos humanos da pessoa imigrante: mulheres, crianças, homens e idosos, tod@ ser humano merece a acolhida integral e devem ser titulares de direitos plenos”, e assim honrarem o cargo público que exercem.

O CDHIC e o Grito dos Excluídos Continental consideram também que estes princípios sejam centrais e orientadores na primeira Conferencia Nacional de Migração e Refúgio/Comigrar que ocorrerá em SP dentro de um mês.

Fazemos um chamado, pois se faz urgente mobilizar campanhas emergenciais de solidariedade aos migrantes haitianos, contando com apoio de outras instituições e empresas para doação de produtos para suas necessidades básicas, bem como de alimentos e agasalhos, e considerar também cursos de capacitação e de idioma português com professores militantes voluntários, em parcerias entre instituições de ensino e poder público.

Juntos por uma cidadania universal!

Nenhuma pessoa é ilegal, todos somos imigrantes!

Assinam:

  • Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante
  • Grito dos Excluídos Continental

“Grávida, pobre e negra” – quando a violência e omissão obstétrica matam e parir vira uma questão de coragem

“Reparação simbólica e reconhecimento da sua morte evitável. Pela melhoria da qualidade do atendimento à saúde das mulheres”. Esses são os dizeres da placa que nomeia o espaço de convivência do Hospital Estadual da Mãe, no município de Mesquita, no Rio de Janeiro. Acima, se lê “Alyne da Silva Pimentel”.

Alyne Pimentel

Alyne já devia se sentir mãe de seu bebê de seis meses, quando foi apenas medicada e encaminhada para casa apesar das fortes dores abdominais, náusea e vômito. Imagino a preocupação e medo que sentiu. Dois dias depois, voltou à Casa de Saúde Nossa Senhora da Glória de Belford Roxo (RJ) onde foi constatado que ela carregava um bebê morto. Não operaram Alyne. Induziram seu parto e só 14 horas depois de dar à luz a uma criança morta, Alyne foi operada para retirada da placenta. Já era tarde, a jovem já tinha hemorragia e vomitava sangue. Tentaram transferi-la para outra unidade médica. Mas Alyne teve que esperar oito horas pela ambulância e chegou ao Hospital Geral de Nova Iguaçu já em coma. A moça morreu cinco dias depois de buscar ajuda hospitalar pela primeira vez. O laudo médico assinala a morte por hemorragia interna. Lendo isso parece que a morte da moça foi quase natural. Mas Alyne não morreu, ela foi morta em 2002, graças a uma sucessão de erros e descaso no atendimento obstétrico.

Os requintes de crueldade do caso Alyne chocaram a população e, em 2011, o estado brasileiro foi condenado pelo Comitê para Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Cedaw) das Nações Unidas a cumprir uma série de recomendações em relação ao caso, como indenizar a família da paciente e garantir o direito das mulheres à maternidade segura e ao acesso adequado a procedimentos obstétricos.

Em março deste ano, a família de Alyne recebeu a reparação financeira (R$ 131 mil reais).“Não quero que aconteça com ninguém o que aconteceu com a minha filha”, afirmou a mãe Maria de Lurdes Pimentel.

A moça negra, pobre e moradora da Baixada Fluminense tornou-se símbolo da luta contra a violência obstétrica. Violência marcada não pela falta de acesso, mas sim, pela falta de qualidade e humanização do atendimento.

Negra, pobre e moradora de área periférica, a descrição de Alyne se encaixa perfeitamente com a minha. Sua imagem em preto em branco surgiu na minha mente dias depois de descobrir que estava grávida. O medo de um pré-natal no SUS, de não ter um atendimento respeitoso, de ter a minha saúde e a do meu bebê negligenciada fixou na minha mente o rosto daquela jovem de 28 anos como eu, grávida de seis meses como eu, negra, como eu.

Infelizmente, esse medo também está embasado em números desumanos. Dados da pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizada pela Fundação Perseu Abramo (2010), revelou que 25% das mulheres relataram algum tipo de violência durante o atendimento ao parto. Aqui estão incluídos xingamentos, realização de procedimentos dolorosos sem aviso e/ou consentimento, gritos, impedimento da presença do companheiro/a, entre outros. Ao falarmos apenas da rede pública, a violência obstétrica é citada por 74% das mulheres.

O Ministério da Saúde afirma que hoje a mortalidade materna fica na razão de 78 a cada 100 mil partos. Diferente do que pode parecer, esse número não é baixo. Prova disso foi a afirmação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que o Brasil ainda é responsável por cerca de 20% das mortes de grávidas que ocorrem todos os anos na América Latina e no Caribe.

Até mesmo o Ministério da Saúde já assumiu que essas mortes de mulheres são evitáveis em 92% dos casos, e que mulheres negras possuem mais chances de morrer por causas relacionadas à gravidez, parto ou pós-parto. A mortalidade materna de mulheres negras está 65% acima da de mulheres brancas[1]. Ou seja, o racismo institucional hierarquiza a vida dessas mulheres e reproduz na área da saúde as desigualdades tão profundamente enraizadas que atingem diretamente a qualidade do atendimento recebido. Além das negras, esse cenário fica cada vez mais hostil para mulheres solteiras, indígenas e que vivem em regiões pobres.

SUS, parto normal e violência


A extrema dimensão da violência levou a vida da Alyne e do seu bebê. Não raro ouvimos histórias de mulheres que sobreviveram, mas nem por isso deixam de trazer em seus corpos marcas de um parto violento. O temor justificado de sofrer nesse momento que deveria ser sublime ou da criança correr algum risco induz cada vez mais mulheres a procurarem um convênio médico ou clínica particular para dar à luz.

Quando parentes e amigos ouviam que eu estava grávida e não tinha convênio médico, as sobrancelhas de espanto e preocupação já se levantavam. Logo percebi que há uma associação direta na cabeça das pessoas entre realizar o parto no SUS e sofrer algum tipo de violência obstétrica.

Mais tarde percebi o quanto o parto normal realizado pelo setor público se transformou em sinônimo de violência. E, por fim, parto normal ou natural virou um ato de agressão. Quando digo para algumas pessoas que quero parto natural, escuto com frequência:“Nossa, quer sofrer?” ou ainda “Que coragem!”.

Ouvir isso de outras mulheres só mostra que a cultura do medo (a serviço de questões mercadológicas) está nos fazendo crer que somos incapazes de parir sem grandes aparatos médicos e intervenções. Minha avó teve nove gestações, o que ela diria ao ouvir que o ato parir virou hoje um ato de coragem?

Bom, parir no SUS pode ser considerado violento pelo uso de técnicas obsoletas, pela falta de respeito à vontade da mulher, pela não humanização do tratamento, pelo excesso de demanda, entre outras razões. E não por ainda realizar mais partos normais do que cesárias. Hoje 62% dos partos no setor públicos são normais e, no privado, apenas 20%.

O caso Adelir demonstrou que a autonomia e poder de decisão da mulher no momento de ter seu bebê estão sendo cerceados. Vale lembrar que a decisão da gestante sobre a forma de nascimento é um direito assegurado pela Convenção Americana de Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

Dados recentes divulgados pela Revista Póli [2], mostram que entre 70% e 80% das mulheres brasileiras tiveram seus filhos/as por meio de cesárias, mas desejavam ter partos normais. Segundo eles, apenas 48% das brasileiras conseguem parir seus rebentos.

Chega de parto violento para vender cesárea!

O terrorismo imposto sob o parto normal é alimentado de maneira distinta no setor público e privado. Nos corredores do SUS dizem que a mulher “vai ficar lá sofrendo horas a fio, até ter o parto via vaginal”. Nos hospitais particulares vão tentar convencer a gestante que a cesariana é menos perigosa e menos traumática para o bebê.

Evidente que há mulheres com histórias de partos tranquilos no SUS, mas, entre o sim ou não, as que podem, correm atrás de uma cesariana. É esse o cenário que temos hoje no Brasil: uma máquina de saúde que precariza ao máximo o serviço público – e com ele a chances de um parto normal de qualidade e sem violência – para valorizar os serviços prestados pela saúde privada onde vendem-se cesáreas aos montes. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem o maior índice de cesarianas do mundo: 52,3% dos partos. Uma taxa aceitável seria de 15%.

Na contramão desse processo, muitas mulheres buscam alternativas onde podem exercer seu protagonismo no nascimento do seu bebê e ter um atendimento mais humano. Em São Paulo as duas únicas casas de parto existentes na cidade têm esse papel.

A Casa de Sapopemba existe há 15 anos. É a única ligada à rede municipal de saúde. Sob o critério de atender gestantes de baixo risco que queiram ter partos naturais, a casa atende em média 20 partos/mês, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. A ideia é criar mais oito unidades como essa na cidade.

A outra opção de parto humanizado e natural é a Casa Ângela mantida pela Associação Comunitária Monte Azul que fica na zona Sul da cidade. O acompanhamento pré-natal e parto são realizados sem custos para as gestantes que moram na região.

Foi lá que nasceu Iara Badu, de 1 ano de idade, filha da designer Nina Vieira. Como eu, quando se descobriu grávida, Nina entrou de cabeça nesse universo de partos normais, naturais, humanizado, dôulas, etc. “Decidi que um parto humanizado e natural seria o melhor para mim e para minha filha e logo vi que a própria estrutura de um hospital impossibilita essa humanização”, conta Nina que já na primeira consulta na Casa Ângela percebeu a diferença no tratamento. “A enfermeira perguntou o nome da criança, porque queria chamá-la pelo nome; ela pediu licença para tocar a minha barriga”. A mãe e o companheiro de Nina assistiram ao parto realizado por uma parteira e uma enfermeira. “Me senti completamente respeitada. Ninguém pediu para eu fazer força ou gritou comigo. Fui eu mesma conduzindo o ritmo do meu parto”.

No mês passado, quando perguntei para o meu médico o que ele achava sobre fazer meu parto numa casa de parto, ele me olhou com estranhamento, como se eu tivesse dito que gostaria de ter o meu filho num açougue na esquina de casa. Ele disse: “Olha, sou um médico ‘antigas’ não tenho experiências com partos humanizados ou em casa”. Fiquei calada pensando o quão contraditório era aquilo que ele estava dizendo. Ele continuou“Partos são imprevisíveis, em um momento está tudo bem e de repente acontece uma complicação”. Por fim, disparou: “O importante é que vai nascer, não sei porque está tão preocupada com o como”.

Por terem uma formação intervencionista, muitos médicos engrossam o coro regido pela cultura do medo que apresenta a cesária como melhor opção. Não sou otimista com relação à mudança de pensamento da comunidade médica, mas sou extremamente otimista sobre o poder de transformação advindo da circulação de informações que empoderem e encorajem a autonomia das mulheres de poder parir em paz.

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[1] Dado Ministério da Saúde e IBGE.

[2] Número 33 de março/abril de 2014.Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.




Jornalista, 28 anos, negra e grávida de seis meses como Alyne, desejando um parto natural como Adelir.

INTERNAUTAS FAZEM CAMPANHA EM REPÚDIO AOS ASSASSINATOS COMETIDOS POR PMs DAS UPPs NAS FAVELAS DO RIO DE JANEIRO


Começou na internet por todo o país um grande movimento em repúdio ao assassinato dos jovens Douglas Rafael, o DG, e Edílson da Silva, mortos por PMs da UPP Cantagalo/Pavão-Pavãozinho no último dia 21. Os crimes revoltaram a população das favelas da zona sul, que fez um grande ato pelas ruas de Copacabana após o velório de DG.

A campanha consiste na publicação massivas por usuários das redes sociais de fotos com cartazes com os dizeres "Eu não mereço ser assassinado", seguidos da hashtag #EuNãoMereçoSerAssassinado. Participe da campanha e envie-nos por inbox a sua foto, que mais tarde publicaremos em nossa fanpage. E que cresça a luta das massas contra os desmando desta que é uma das polícias mais violentas e anti-povo do mundo.




Polícias Militares do Brasil são ridicularizadas na internet



Inspirados em uma campanha feita em Nova Iorque, internautas brasileiros criaram a página “Minha PM”, que reúne fotos que flagram a repressão e a violência policial. 

Da Redação, 
Na última semana a polícia de Nova Iorque, nos Estados Unidos, iniciou uma campanha de marketing que incentivava os cidadãos a postarem fotos com os policiais com a hashtag #myNYPD. Em pouco tempo, no entanto, a hashtag foi para os Treding Topics do Twitter com os usuários se aproveitando para postar fotos denunciando os abusos e a violência cometida pela polícia nova iorquina. 

No Brasil, usuários da rede se inspiraram no inusitado protesto dos americanos e criaram o tumblr Minha PM, que traz fotos denunciando a violência das Polícias Militares pelas cidades do país. De maneira bem humorada e irônica, a página convoca os internautas a compartilharem fotos dos “seus lindos momentos com a Polícia Militar brasileira”.

As legendas das fotos ironizam a postura dos agentes do Estado em diversas situações e evidenciam a desproporcionalidade da ação policial em relação às vítimas da violência retratada.

Confira abaixo algumas das imagens reunidas pela página:

Foto: Reprodução/Tumblr Minha PM

Foto: Reprodução/Tumblr Minha PM

Foto: Reprodução/Tumblr Minha PM

Foto: Reprodução/Tumblr Minha PM

Foto: Reprodução/Tumblr Minha PM

Fonte: RevistaForum

DG do “Esquenta”: Foto de jovem armado com fuzil não é de dançarino morto


Por Paolla Serra,
Mensagens compartilhadas com uma foto pelas redes sociais, neste sábado, afirmam ser do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, a imagem de um jovem com um fuzil na mão. Sem camisa, de bermuda preta e com boné para trás, o rapaz está ao lado de outro homem, que também exibe uma arma semelhante. A fotografia, entretanto, teria sido apreendida pela Polícia Civil, em 2008, durante uma operação contra o tráfico de drogas na Vila Aliança, Zona Oeste do Rio - dominada por uma facção rival a do Pavão-Pavãozinho, onde o corpo de DG foi encontrado - e já foi compartilhada na internet em outras ocasiões.

Em uma pesquisa na rede, percebe-se que a imagem já foi reproduzida em pelo menos 198 sites e atribuída a outros traficantes. Desde a manhã deste sábado, a foto já foi compartilhada pelo aplicativo WhatsApp e também pelo Facebook. Em páginas do site de relacionamentos, comentários foram deixados em alusão a morte de DG, na madrugada da última terça-feira. “Bandido bom é bandido morto”, escreve um homem no grupo entitulado “Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro”.

Os comentários em um grupo do Facebook Foto: Reprodução de internet

No mesmo perfil, uma mulher questiona: “Mesmo sendo pessoa do mal merece ser assassinado? Que lógica é essa?” Um outro usuário responde: “A página aqui é só de apologia ao ódio. A lógica não tem espaço.” Já em um perfil dos Praças da PM, outro homem compartilhou a foto e ameaçou: “Pra qualquer simpático a bandido que está incomodado, vem tentar...”

Nas seis imagens apreendidas na ação, oito bandidos aparecem empunhando fuzis, pistolas, radiotransmissores e cordões de ouro. As imagens estavam escondidas em um imóvel localizado ao lado de uma creche, junto com 500 cápsulas de fuzil. Após a entrada da polícia na favela, houve intenso tiroteio entre agentes que estavam no helicóptero Águia e traficantes localizados lado da creche. Na época, a quadrilha seria liderada por Márcio da Silva Lima, o Tola.

Morte por tiro

Douglas Rafael foi encontrado morto no Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, na tarde desta terça-feira. No mesmo dia, moradores da comunidade iniciaram um protesto contra a morte em um dos acessos à comunidade, na Ladeira Saint-Roman, no final da Rua Sá Ferreira. O laudo da perícia de local não constatou que o dançarino havia levado um tiro. Uma foto divulgada ontem pelo EXTRA mostrou, entretanto, a marca da perfuração nas costas de DG. A imagem chegou através do WhatsApp do jornal.

Fonte: Extra.