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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

13 filmes que discutem racismo na educação


Consciência Negra. Dia em que se relembra a morte de Zumbi dos Palmares, líder de um quilombo, que lutou incessantemente pela libertação de escravos e por uma sociedade digna. Na perspectiva de discutir como ainda hoje o racismo está presente e como a luta do movimento negro permanece necessária na sociedade brasileira, o Centro de Referências escolheu 13 filmes que tratam da temática no ambiente escolar ou na educação de forma geral. São histórias presentes que nos auxiliam a desvendar a origem dos preconceitos e dar mais passos para que o país como um todo possa vencê-los.

1. Escritores da Liberdade, Richard LaGravenese – EUA/ 2007/Comédia Dramática


Uma nova professora chega a escola tentando mostrar aos estudantes que aquilo que trazem de casa os das ruas faz sentido também dentro da sala de aula. Problemáticas como racismo, desigualdade social e exclusão social dão o mote do filme. Baseado em fatos reais, o longa mostra como a professora Erin Grunwell transformou a relação de aprendizagem em uma escola dividida por tribos. Escola marcada pela resistência dos estudantes em lidar com as diferenças, é por meio da professora que a discussão de cor/raça é trazida para as atividades, que incluem escrever sobre a história de vida de cada um.

2. Vista a minha pele, Joel Zito Araújo & Dandara - BRA/2004/ Comédia


O vídeo ficcional-educativo traz em menos de 30 minutos uma paródia sobre como o racismo e o preconceito ainda são encontrados nas salas de aula do Brasil. Invertendo a ordem da história, o vídeo utiliza a ironia para trabalhar o assunto de forma educativa. Nele, negros aparecem como classe dominante e brancos como escravizados e a mídia só apresenta modelos negros como exemplo de beleza.

3. Cultura Negra – Resistência e identidade, Ricardo Malta – BRA/2009 /Documentário


O documentário, produzido pela da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), organizações sociais que combatem a intolerância religiosa e buscam por maior visibilidade da cultura negra. Um dos objetivos do vídeo é contribuir com o debate entorno da Lei nº10639/03, que torna obrigatório a inclusão do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e inclusão, no calendário escolar, do dia 20 de novembro como “Dia da Consciência Negra”.

4. Olhos azuis, Jane Elliot- 1968/EUA/Documentário


O documentário mostra como foi o trabalho desenvolvido pela educadora norte-americana Jane Elliot, que realizou atividades de conscientização tanto com crianças quanto com adultos brancos, em 1968. O vídeo mostra o processo de conscientização realizado durante as oficinas, no qual os brancos poderiam sentir a discriminação sofrida por negros.

5. Ao mestre com carinho, James Clavell, 1967/ EUA


Um engenheiro desempregado começa a lecionar em uma escola pública da periferia de Londres, formada por estudantes rebeldes e também racistas. Aos poucos, ganha a confiança, amizade e respeito dos alunos.

6. Mãos talentosas, Thomas Carter-2009/EUA/Drama


O filme conta a história de um menino pobre do Detroit. Desmotivado por tirar baixas notas na escola, era motivo de bullying de forma frequente. Incentivado a estudar pela mãe, que voltou a estudar já adulta, Ben Carson torna-se diretor do Centro de Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário Johns Hopkins aos 33 anos, em Baltimore, EUA.

7. Encontrando Forrester, Gus Van Sant – 2000/ EUA


O filme trata sobre a história de Jamal, um adolescente do Bronx que vai estudar em uma escola de elite de Manhattan (EUA). Mas continua sofrendo discriminação e preconceito por conta de sua cor. Com a ida, conhece o talentoso escritor William Forrester , que percebe seu talento para a escrita e o incentiva a prosseguir nessa área.

8. Mentes Perigosas, John N. Smith -1995/EUA/ Drama


A professora Louanne Johnson entra em uma escola da periferia norte-americana e é hostilizada pelos alunos. Percebendo que seu método de ensino não está funcionando Louanne passa a se envolver mais com a diversidade cultural de seus estudantes e, assim, percebe melhor as dificuldades que passam.

9. Entre os muros da escola, Laurent Cantet – 2008/ França/ Drama


François Marin atua como professor de língua francesa em uma escola de ensino médio, na periferia de Paris, composta por estudantes de diversos países da África, do Oriente Médio e da Ásia. Ele e seus colegas docentes tentam buscar diversas ações para ensinar os estudantes, mas ainda assim encontram dificuldades, dada as condições socioeconômicas em volta da unidade escolar.

10. Separados mas iguais, George Stevens Jr – 1991/ EUA/ Drama


Baseado em fatos reais, “Separados, mas iguais” narra a disputa entre pais de alunos negros e juízes do Condado de Claredon, na Carolina do Sul, no início dos anos 50. Na época, as escolas separavam os alunos brancos, que claramente tinham acesso à educação de maior qualidade acesso à verba para manter a estrutura das escolas.Um diretor da escola , tem o pedido de um ônibus escolar negado, com o apoio do pai de um de seus alunos, entra com processo contra o estado, alegando a inconstitucionalidade do país ao promover escolas diferenciadas para negros e brancos.

11. Sarafina – o som da liberdade, Darrell Roodt – 1992/África do Sul/Musical


Com Whoopi Goldberg no papel principal, o filme conta a história de uma professora sul-africana que não aceita ver seus estudantes se sentindo diminuídos. Em um processo educativo permanente, ela ensina seus alunos negros a lutarem por seus direitos e compreenderem a sociedade em que vivem, não esquecendo que podem diariamente transformá-la.

12. Preciosa, Lee Daniels – 2009/EUA/ Drama


O filme conta a trajetória de Claireece “Preciosa” Jones, uma garota negra que sofre diversas dificuldades. Quando criança, é abusada e violentada pelos pais. Cresce pobre e passa por uma série de discriminações por ser analfabeta e acima do peso. Após muita insistência pessoal e com a ajuda de uma educadora que muito acredita na sua possibilidade de mudança, Preciosa dá a volta por cima.

13. Alguém falou de racismo, Daniel Caetano – 2002/Brasil/Drama


O filme mistura trechos documentais e ficcionais para contar a história de um professor que decide provocar seus alunos a pensarem sobre o preconceito racial e a construção da sociedade brasileira que sistematicamente segregou negros e brancos.

A ditadura dos cachos comportados



Para começar, acho importante dizer que também sou do “clubinho” das cacheadas e reconheço a importância de aceitar meu cabelo como ele é. Também senti as dores causadas em mim pelo racismo, materializado na repulsa das pessoas, e minha também, pelo meu cabelo. Mas hoje ele é invejado e admirado por homens, mulheres e crianças, negrxs, brancxs, vermelhos, amarelos e roxos de bolinhas azuis…

Pois é, os cachos viraram uma febre nacional e todas querem abandonar a química, enfrentar a transição ou fazer o Big Chop e deixar a madeixa balançar! Só tem um problema: nem toda madeixa afrodescende balança…

Com essa onda dos cachos, estamos presenciando mais um momento de abuso do privilégio branco, mais uma vez o branco quer nos ensinar sobre nossas dores. Virou moda mulheres brancas falarem sobre orgulho de seus cachinhos como se elas soubessem o que é ter vergonha e mesmo horror do próprio cabelo, corpo, rosto, pele… É no mínimo absurdo ver mulheres que deixaram de diminuir leves ondulações com o secador, dando lições de auto-estima para quem precisa se envenenar com produtos cancerígenos, que podem prejudicar até um bebê durante a gestação.

Precisam, pois essas mulheres, nós mulheres negras, não fazermos isso apenas para nos sentirmos mais bonitas, na verdade sabemos que esse resultado nunca é alcançado por esses meios, quando muito, conseguimos diminuir a repulsa dos outros e a nossa. Além disso, muitas vezes, essa é a única forma de sermos aceitas na sociedade, conseguirmos um emprego ou um companheiro.

E a indústria do envenenamento segue lucrando com nossas dores, deturpando todo o nosso processo de construção identitária e nossa busca por independência dos padrões eurocêntricos. Deixar de alisar nossos cabelos é lutar contra uma das mais devastadoras facetas do genocídio do povo negro: a aniquilação de nossa auto-estima. Porém hoje nos oferecem outras formas de atender nossa demanda por uma estética negra, mas que continue respeitando os padrões racistas; nos dão produtos que prometem crespos mais aceitáveis, cachinhos soltos, esvoaçantes e agradáveis aos olhos azuis que nos julgam. Tentam de todas as formas domar nossas raízes linda e historicamente rebeldes!

Mas não se enganem achando que estamos entrando no roll das belas por natureza ou que estamos estabelecendo novos padrões estéticos, devemos saber que a admiração pelos cachos se manifesta de forma semelhante ao enternecimento diante de um belo filhotinho de cachorro… Nossa luta contra a indústria assassina da moda e da estética está apenas começando.

A postura tolerante diante dos nossos cachinhos não passa de mais uma velha tática do mito da democracia racial. Historicamente o racismo brasileiro vem concedendo pequenas bonificações para aqueles que foram agraciados pela natureza e pela atitude inteligente dos pais, que procuraram parceirxs brancxs para garantir uma prole mais próxima do céu: o mulato. Este sempre recebeu os melhores restos da Casa Grande e muitos acreditam que isso os tornam iguais aos senhores. Talvez por isso seja tão comum vermos mulheres negras, “mulatas” fazendo coro com xs opressorxs contra as irmãs que ainda sofrem acreditando na mentira racista de que têm uma carapinha de bombril.

Essa mentira tão bem contada por séculos, não permite enxergar que, na verdade, sua cabeça está ornada com uma bela cabeleira lanosa, a coroa das nossas rainhas ancestrais. Perceber isso é um dos últimos estágios do nosso processo de empretecimento, é o momento em que a ferida estanca e as cicatrizes não permitem mais que as pancadas do racismo nos assustem ou nos façam recuar, chegar a isso leva tempo e gera sofrimento.

Sejamos irmãs e tenhamos sensibilidade e senso crítico para lidar com as armadilhas do racismo. Não podemos cair no jogo sujo da “aceitação” racista, que visa apenas nos separar e manter o projeto colonial de aniquilação de nossa ancestralidade, por meio do apagamento de qualquer traço cultural ou fenotípico que remeta à África.Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.

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Mariana Santos de Assis é formada em letras e mestranda em Linguística Aplicada na Unicamp. Escreve no blog conversaafiadaca.blogspot.com.br

Nigeriano cria bonecas negras contra preconceito e supera venda de Barbie


Bonecas da Queens of Africa (Foto: Akintunde Akinleye/Reuters)

Ele criou as 'Queens of Africa' depois de não achar presente para sobrinha.
Bonecas têm cabelos e roupas inspiradas em mulheres africanas.

A Nigéria é o país com a maior população negra do mundo. Mesmo assim, quando o nigeriano Taofick Okoya foi comprar um presente de aniversário para sua sobrinha, em 2006, só achou bonecas brancas nas lojas.
Taofick, criador da marca 
(Foto: Taofick Okoya/Arquivo pessoal)

Foi então que o empresário de 44 anos, que na época era diretor-executivo da empresa familiar de utensílios de plástico, teve a ideia de fabricar bonecas que fossem da cor da imensa maioria das crianças de seu país.

Surgiu, assim, a Queens of Africa ("rainhas da África"), uma empresa que hoje já vende mais bonecas na Nigéria do que a famosa Barbie.

“A ideia é promover a autoaceitação e a confiança nas crianças africanas e nigerianas. Queria que elas gostassem de si mesmas e de sua raça. Percebi que a superexposição a bonecas e personagens brancos fazia com que elas desejassem ser brancas”, disse Okoya ao G1.

Ele conta que teve um exemplo disso em sua própria casa, em uma conversa com sua filha, quando ela tinha 3 anos de idade. “Os personagens preferidos dela eram todos brancos, as bonecas, também. Um dia ela me perguntou: ‘de que cor eu sou?’. Disse que ela é negra e ela falou que preferiria ser branca. Tive que explicar que há tipos diferentes de pessoas e culturas no mundo, que não somos todos iguais, e que negro também é bonito”, diz ele.

Resistência

Criança em frente imagens das bonecas 
(Foto: Queens of Africa/Divulgação)

A Queens of Africa fabrica seis modelos de bonecas, que representam os três maiores grupos étnicos da Nigéria: Hausa, Igbo e Yoruba. Os cabelos e as roupas se baseiam em looks de mulheres africanas.

A marca enfrentou resistência no início. Segundo Okoya, os nigerianos não estavam acostumados a ver bonecas negras e as crianças preferiam as brancas.

Além da barreira cultural, havia a barreira econômica. “Bonecas são vistas como algo elitista na Nigéria, porque costumam ser caras”, diz o empresário. A solução foi criar produtos com várias faixas de preço: a boneca mais barata, chamada Princesa Naija, é vendida pelo equivalente a US$ 5 (cerca de R$ 11).

Depois de “muitos altos e baixos”, a Queens of Africa emplacou. Em média, são fabricadas cerca de 24 mil unidades por mês – o número sobe nos períodos festivos, como Natal e Dia das Crianças.

Brasil

Bonecas usam roupas típicas 
(Foto: Queens of Africa/Divulgação)

Por enquanto, as bonecas só são vendidas na Nigéria, mas Okoya pretende mudar isso logo. Segundo ele, até o fim do ano a marca fará vendas online. Ele diz tambem que há empresas de outros países da África, da Europa e dos Estados Unidos interessadas em revender os produtos.

Percebi que a superexposição a bonecas e personagens brancos fazia com que as crianças nigerianas desejassem ser brancas"
Taofick Okoya

No perfil da marca no Facebook, uma mensagem em inglês e em português diz que as bonecas chegarão em breve ao mercado brasileiro. Okoya afirma que está em negociação com uma pessoa que venderia or produtos no Brasil em pequena escala – ele não revela o nome. “Quero enviar o primeiro pedido neste mês”, diz.

No mercado brasileiro, as bonecas negras são minoria, mas alguns modelos podem ser encontrados em lojas de brinquedos.

Segundo Okoya, a aceitação das bonecas na Nigéria melhorou muito com o tempo. Ele defende que as crianças sejam expostas à diversidade nas brincadeiras. "Elas têm que aprender a apreciar e a aceitar as diferenças sem perder sua própria identidade. É triste que elas cresçam com esse sentimento de insegurança, querendo ser outra pessoa”, completa.

Bonecas da Queens of Africa 
(Foto: Queens of Africa/Divulgação)


Fonte: g1

Racismo no futebol: Goleiro Aranha é alvo de ofensas racistas na Arena do Grêmio



Atitudes racistas voltaram a acontecer no futebol brasileiro. Dessa vez, o perseguido foi o goleiro Aranha, que defendia o Santos nesta quinta-feira na vitória por 2 a 0 contra o Grêmio, pelas oitavas de final da Copa do Brasil. O arqueiro, que teve uma grande atuação e garantiu a vitória de sua equipe por 2 a 0, foi insultado no final da partida por torcedores na Arena, em Porto Alegre. Câmeras do canal ESPN Brasil flagaram uma torcedora claramente chamando Aranha de macaco e o resto do grupo fazendo sons que lembravam o animal. O jogador optou por não prestar queixa à polícia após a partida.

Aranha acusa torcedores do Grêmio de proferir xingamentos racistas
Foto: Ricardo Rímoli / Agência Lance

Na saída de campo, Aranha demonstrou revolta com a atitude dos torcedores e lembram que o próprio Grêmio já fez campanha contra o racismo no futebol brasileiro.

"A outra vez que viemos aqui jogar a Copa do Brasil tinha campanha contra racismo, não é à toa. Xingar, pegar no pé é normal. Agora me chamaram de 'preto fedido, seu preto, cambada de preto'. Estava me segurando. Quando começou o corinho com sons de macaco eu até pedi para o câmera filmar, eu fiquei p... .Quem joga aqui sabe, sermpre tem racista no meio deles. Está dado o recado, agora é ficar esperto para a próxima", desabafou o goleiro.

"Está o recado para ficarem espertos para a próxima partida. Tem leis, mas no futebol sabemos que o torcedor usa de várias maneiras para desestabilizar. Não vou deixar de jogar o meu futebol por manifestação de torcedor. Dói, mas tenho que jogar", declarou Aranha.

Os companheiros do goleiro lamentaram a situação. "A gente vive em uma democracia. Acho que todos são iguais, independentemente da cor. Isso é lamentável no futebol", afirmou o zagueiro Edu Dracena. "Tem que ser banido do futebol. Não deve nem entrar no estádio. O Aranha foi muito feliz em denunciar, porque só assim a gente combate isso", disse o defensor em entrevista à ESPN Brasil.

"Não vi, sinceramente, mas os insultos são normais, sabemos que jogando aqui vão nos insultar, mas não sei se falaram alguma coisa de racismo. Isso a gente não admite. Em 2014, sabemos que isso é normal de acontecer, mas a cor de pele não diferencia ninguém", disse o atacante Robinho.

"Se tem imagem fica um pouco mais fácil. Espero que as autoridades possam tomar uma atitude. Não dá para aceitar mais isso. Algumas pessoas veem outras fazendo e fazem, também. Enquanto não houver uma punição severa, vamos continuar passando por isso", argumentou o volante Arouca, que foi vítima de ofensas racistas no mês de março.

Fonte: terra

Racismo contra Leci Brandão: “macumbeira”, “nojenta”, “verme”


A deputada estadual e candidata à reeleição foi atacada por usuária do Facebook com ofensas racistas; Procuradoria Regional Eleitoral deu parecer favorável à sambista e determinou a retirada do perfil da internauta 

A deputada estadual Leci Brandão (PCdoB – SP), defensora assídua da cultura negra e das manifestações religiosas de matriz africana, vem sendo alvo de ataques de ódio e racismo no Facebook. Um usuária que não foi identificada, ao longo das últimas semanas, postou xingamentos contra a deputada. No último caso, mais recente, a sambista foi chamada de “macumbeira”, “nojenta”, “maldita” e “verme”. 

Leci já havia solicitado a exclusão dos comentários com o provedor da página. O Facebook, no entanto, informou que havia analisado as denúncias e concluído que não havia violação aos seus “padrões de comunidade”.

A deputada, então, solicitou à Procuradoria Regional Eleitoral do Estado (PRE-SP) uma liminar para a retirada das mensagens da página, o que foi acatado nesta quarta-feira (27) pelo órgão. 

O ódio e o racismo, contidos nessas e outras expressões, é prática vedada pela lei e é crime inafiançável de acordo com a Constituição, alerta, no parecer, o procurador eleitoral auxiliar, Paulo Thadeu Gomes da Silva. Em razão da gravidade das ofensas, Gomes da Silva encaminhou cópia da representação da deputada à Procuradoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo “para as providências criminais que entender cabíveis”.

Leia a íntegra da nota divulgada pelo PRE-SP:

“A Procuradoria Regional Eleitoral no Estado de São Paulo (PRE-SP) manifestou-se a favor de concessão de liminar para retirada imediata de mensagens ofensivas à deputada Leci Brandão (PC do B) do Facebook. Na página de uma usuária da rede social, a deputada é chamada de ‘macumbeira’, ‘nojenta’, ‘horrorosa’, ‘maldita’, ‘verme’.

O ódio e o racismo, contidos nessas e outras expressões, é prática vedada pela lei e é crime inafiançável de acordo com a Constituição, alerta, no parecer, o procurador eleitoral auxiliar, Paulo Thadeu Gomes da Silva. Em razão da gravidade das ofensas, Gomes da Silva encaminhou cópia da representação da deputada à Procuradoria Geral de Justiça do Estado de São Paulo “para as providências criminais que entender cabíveis”.

Leci Brandão já havia obtido liminar para a retirada das mensagens ofensivas, mas renovou o pedido em vista de novas postagens com conteúdo semelhante. Antes de ajuizar a representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), a deputada havia buscado a retirada dessas mensagens com o provedor da página. O Facebook informou que havia analisado as denúncias e concluído que não havia violação aos seus “padrões de comunidade”.

‘A retirada das mensagens indicadas não representa a alegada violação à liberdade de expressão e livre manifestação do pensamento dos usuários do Facebook, os quais podem continuar a exercer esses direitos fundamentais em suas próprias páginas eletrônicas, inclusive durante a campanha eleitoral’, sustenta Gomes da Silva. Entretanto, afirma, a lei prevê a retirada “de publicações que contenham agressões ou ataques a candidatos em sítios da internet, inclusive redes sociais”.

Fonte: spressosp

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

II Marcha Contra o Genocídio do Povo Negro | UnB TV

Foto: Ògan Luiz Alves.

Milhares de pessoas saíram as ruas em todo o país no dia 22 de agosto de 2014, na II Marcha Nacional contra o Genocídio do Povo Negro. A manifestação ocorreu em pelo menos 10 estados, com repercussão internacional. Assista:


Fonte: UnBTV.

"Beneficiado fui eu, mas a vitória é coletiva", diz Kabengele Munanga

S. Paulo – “O beneficiado fui eu, mas a vitória é coletiva”. Desta forma o professor Kabengele Munanga, uma das maiores autoridades em Antropologia no país, recebeu a decisão da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), fundação do Ministério da Educação (MEC), de voltar atrás na decisão de excluí-lo da Bolsa para o Programa Professor Visitante Nacional Sênior (PVNS) da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).

Munanga, professor da Universidade de S. Paulo (USP) por mais de 30 anos, autor de vários trabalhos na área da Antropologia da população negra africana e afro-brasileiro é uma referência nacional e internacional no campo das relações raciais e da Antropologia. Embora aprovado com mérito, havia sido desclassificado na fase final do processo convocado pelo Edital 028, lançado no final do ano passado.

Sua desclassificação causou “espanto e comoção na comunidade acadêmica”, segundo as palavras da professora Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, chefe do Departamento de Antropologia da USP, e protestos de acadêmicos, ativistas e lideranças do movimento negro que viram na desclassificação "sinais evidentes de racismo" por parte da Comissão.

Surpresa

Ele conta que antes de receber a informação da professora Ana Cristina Fermino, Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRB, no dia 04 de agosto passado, já havia tomado a iniciativa de escrever uma carta a direção da Universidade Federal do Recôncavo agradecendo e pedindo que fosse “botado um ponto final no caso”. “A CAPES havia ficado de dar resposta ao recurso em fevereiro, depois passou prá março e já estávamos em agosto. Eu não podia ficar de mãos amarradas. Prá mim foi uma surpresa porque não esperava mais. Da CAPES eu não esperava mais nada”, afirma.


Para Munanga não há dúvidas de que houve indícios de discriminação na sua exclusão. “O relator deu um parecer elogioso. Mas, os outros membros a gente não sabe quem são nem quais foram os critérios de comparação. Ninguém sabe porque tudo é sigiloso. O parecer é entregue aos membros da comissão por critérios de comparação. Eu era o único negro concorrendo a essa bolsa”, afirma.

Ainda sem saber quando assumirá (provavelmente no ano que vem, já que agora começam os trâmites burocráticos para efetivação da Bolsa, que é de R$ 9 mil reais /mês, por dois anos renovável) Kabengele Munanga se diz estimulado para assumir as aulas e poder repassar sua experiência docente na UFRB. “Sim, estimulado sim. Na minha vida acadêmica nunca fiz outra coisa senão dar aulas. Há 44 anos não faço outra coisa. Depois de mais de 30 anos na USP, tenho certeza de que as aulas em Cacchoeira (campus da Universidade para onde se inscreveu) serão ainda melhores pela experiência acumulada. Estou muito entusiasmado ”, acrescenta.

Ele disse não ter dúvidas de que a pressão feita junto à CAPES deu resultados. “Se não fosse a pressão acho que eles não iam recuar. Da próxima vez quando tiver um candidato negro, penso que ficarão mais atentos”, conclui.

Superado o caso com a volta atrás da CAPES, permanece o questionamento a respeito de quem são os membros da Comissão que excluiu Munanga, cujos nomes são desconhecidos. Embora cobrada a CAPES tem silenciado à respeito e ativistas que se mobilizaram para pressionar a fundação do MEC já cogitam utilizar a Lei de Acesso à Informação para obter a identidade dos autores.

Fonte: afropress

Seminário discute a construção do Museu Afro, em Brasília

Foto: Daniel Silva/ Ascom FCP - MinC
Macaé Evaristo (SECADI/MEC); ministra Luíza Bairros (SEPPIR/PR); ministra Marta Suplicy (MinC); Hilton Cobra e Swedenberger Barbosa (Casa Civil/GDF)

Subsidiar a construção do Museu Nacional da Memória Afrodescendente. É o objetivo do Seminário Rumoao Museu Nacional da Memória Afrodescendente, que acontece até a amanhã (28) na sede da Fundação Cultural Palmares, em Brasília. Segundo o presidente da Fundação Cultural Palmares, Hilton Cobra, o Museu fará parte do complexo do Parque Nelson Mandela, a ser construído as margens do Lago Paranoá, na capital federal, e abrigará o maior acervo do país sobre a história negra, uma importante referência nacional e internacional da cultura afro-brasileira.

Educação – “Precisamos resgatar a dor, para evidenciar a contribuição do povo negro na construção da sociedade brasileira”, disse Marta. Para isso, o Museu trabalhará com a história contada e a não contada nos livros-base da Educação. “Estamos em busca da verdade sobre a história do negro no Brasil para resgatar a autoestima com base na identidade, “, completou.

Para o Ministério da Educação, o Museu será um alicerce fundamental na tarefa de implementar a Lei 10.639/2003 que estabelece o ensino da história e cultura dos africanos e afrodescendentes no currículo escolar. Macaé Evaristo, secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, afirma que se trata de um grande avanço também, no que diz respeito à redução das desigualdades raciais. “É uma possibilidade de sairmos do silenciamento, um lugar de expectativa e de vozes que ainda não foram ouvidas em nossa sociedade”, disse.

Identidade – Já a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, comparou a proposta do museu à obra Comunidades Imaginadas, de Anderson Benedict, onde o autor afirma que censos, mapas e museus são três posicionamentos importantes a como as populações se compreendem no tempo e no espaço. “São os modos como uma nação se define e pretende se apresentar para si e para o mundo”, explicou a ministra.

De acordo com Luiza, a população negra brasileira teve ganhos muito significativos no que tange ao reconhecimento de sua participação na sociedade, porém o Museu será um espaço à divulgação dos passos que já foram dados nesse sentido. “Um lugar onde poderemos contar nossa história, oferecer contribuições, interação e influências aos nossos passos no presente e no futuro”, concluiu.

O secretário da Casa Civil do Governo do Distrito Federal, Swedenberger Barbosa, também participou dos debates ressaltando a parceria entre o MinC e o GDF para a conquista da nova área de 65.006,502 m², localizada no Lago Sul, próxima a Ponte JK.

O Seminário Rumo ao Museu Nacional da Memória Afrodescendente segue até hoje, quinta-feira (28). Aguarde novas informações!

Fonte: palmares

MPDFT obtém condenação de Leonardo Lício do Couto, procurador federal, por racismo na internet


O Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) obteve a condenação de um procurador federal pela prática de crime de racismo. O réu foi sentenciado a dois anos de prisão e ao pagamento de multa no valor de dez salários mínimos. A pena de prisão foi substituída por uma pena privativa de direitos e multa, também no valor de dez salários mínimos.

O crime aconteceu em 2007, quando o réu, que na época era candidato a concurso público, postou em um fórum de discussões na internet: "Apesar de ser anti-semita, endosso a opinião do MOSSAD; [...] Na verdade, não sou apenas anti-semita. Sou Skinhead. Odeio judeus, negros e, principalmente, nordestinos; [...] Não, não. Falo sério mesmo. Odeio a gentalha a qual me referi. O ARGÜI deve pertencer a um desses grupos que formam a escória da sociedade".

O inquérito foi instaurado por requisição do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação e, durante as investigações, foram realizadas quebras de dados de internet que permitiram a identificação do autor do texto. Em sua defesa, o réu declarou que a postagem era "apenas uma brincadeira", mas o Ministério Público argumentou que brincadeiras com conotação discriminatória tão grave são intoleráveis.

Na sentença, o juiz de direito substituto da 3ª Vara Criminal de Brasília afirmou: "Diferentemente do que o réu, procurador federal, sustentou, não é infame proclamar que ninguém tem o direito de propagar publicamente a 'opinião' de que odeia 'judeus, negros e nordestinos', e de que essa 'gentalha' compõe 'grupos que formam a escória da sociedade'. Propagar por meio de comunicação social esse tipo de 'opinião' configura, sim, o crime de racismo objeto do art. 20, § 2o, da Lei n. 7.716/1989".

Para o promotor de Justiça Coordenador do Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, Thiago Pierobom, essa decisão é muito importante por alertar para as consequências criminais de postagens em redes sociais. "Não é aceitável que se tolerem expressões graves de discriminação e depois se tente justificá-las como atos de brincadeira. Não se brinca de racismo. É necessário criar um cordão sanitário contra todas as formas de discriminação", afirmou.


Fonte: MPDFT

Casal posta foto em rede social e se tona vítima de racismo



Um casal de Muriaé postou uma foto, em uma rede social, e foi vítima de racismo por parte de pessoas que tem acesso a página deles. A jovem Dóris Martins postou uma foto juntamente com seu namorado e começou a receber mensagens extremamente racistas de pessoas identificadas e de outras que até o momento não se sabe quem são. Uma delas deixou a seguinte mensagem: “onde o rapaz teria comprado a escrava”, postado por uma pessoa denominada “capivara vuadora”, que deve ser face (falso)


Outras pessoas, já identificadas, também postaram comentários maldosos em relação ao relacionamento do casal, como um rapaz que postou: “o casal parece que está na senzala” Já outro comentou: “se mexer vira nescau”. Após todas as menagens maldosas, a jovem postou uma mensagem lamentando os comentários. A Polícia Civil está no aguardo da manifestação do casal, com registro de ocorrência, para iniciar a apuração dos fatos e instaurar inquérito.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Escola, Racismo e Negritude – Negar não resolve nada. Enfrentemos!


Não adianta pintar de branco o pé da árvore,
a força da casca por baixo grita.
(Aimé Césaire)

Professoras e professores da rede estadual de ensino deparam-se cotidianamente com situações de conflito no espaço escolar, que embora incidam diretamente na aprendizagem não parecem originar-se do processo de ensino-aprendizagem em si. São situações anteriores que se capilarizam para dentro do universo escolar, sem que muitas vezes se tenha instrumentalização para percebê-las ou intervir nas mesmas.

O desafio vivenciado cotidianamente por cada educadora e educador traz em seu bojo, em alguns momentos de maneira sutil em outros de maneira violentamente explícita todo o impacto do racismo no desenvolvimento das relações no espaço escolar, seja a partir da percepção que as/os educandas/os tem de sua negritude, seja na percepção que têm da negritude da/o outra/o. Partimos aqui da perspectiva de que é necessário desenvolver ações que possibilitem as/aos educandas/os acesso a elementos que lhes instrumentalize no processo de re-significação de sua percepção de Àfrica e assim de afrodescendentes, incidindo diretamente na elaboração positiva da identidade Negra.

O cotidiano das relações nas escolas, quando observado com mais cuidado, aponta que embora institucionalmente invisibilizada a violência que é relacionada a práticas discriminatórias resultantes das pré-concepções quanto a raça, estão presentes e se mostram evidentes. Fato comprovado, a presença e muitas vezes preponderância de população negra na escola não institui uma relação de equidade dentro desse espaço; longe disso, reproduz a lógica de discriminações de uma cultura hegemônica, machista, sexista, branca, adultocêntrica, vivenciada nas relações sociais.

O racismo é realizado por formas complexas, não sendo admitido conscientemente pelas figuras que o exercem, sendo comum a negação de qualquer forma de discriminação. Aqui entendemos racismo conforme a definição sugerida por Kabengele Munanga em Uma abordagem conceitual das noções de Raça, racismo, Identidade e Etnia:

“(…) o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural, (…) o racismo é essa tendência que consiste em considerar que as características intelectuais e morais de um dado grupo, são consequências diretas de suas características físicas ou biológicas.” Nesse contexto, as práticas observadas na escola estão marcadas e determinadas pelo racismo expressado e vivenciado na sociedade brasileira em geral, racismo esse que se manifesta na percepção de brancos/as e negros/as tem da negritude.

Ao emergirem os conflitos, via de regra a posição escolar reproduzindo a sociedade, sempre se dá a afirmação da igualdade, negando a existência da diferença apesar da adoção de práticas ostensivas de diferenciação sobretudo no que tange aos aspectos raciais e estéticos. Assim é promovida a cultura da violação do Direito à Diferença e à Diversidade e se reproduz no cotidiano as teses de Gilberto Freyre de que há uma harmonia e convivência fraterna entre brancos e negros no Brasil, sendo a raiz das tensões o aspecto social e não o aspecto racial.

Lançar um olhar para os escola, e especificamente para o desenvolvimento das relações entre crianças negras e não negras no ensino fundamental é buscar identificar as múltiplas violências vivenciadas por esses grupos, no exercício de seu protagonismo racial, umas/uns sendo relegadas/os a um lugar menor e ocupando-se de ocupar essa menoridade e outras/os sendo educadas/os para a superioridade.

De acordo com as Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais [1] entende-se nesse contexto que a escola deveria ser um espaço de movimento, trocas, de vida, potencializador da existência a partir da constituição do conhecimento e do circular de saberes (ORIENTAÇÕES p.56).

É na escola que se tem eminentemente um trabalho de grupos, seja de irmãos biológicos que freqüentam a mesma escola, seja de crianças de diferentes famílias que se origina no fato de estarem todas juntas no mesmo espaço partilhando de uma identidade comum: educandas/os. Nesse sentido, não seria exagero pensar a escola como sendo um dos principais espaços onde a convivência com o diferente deveria ser estimulada, valorizada e estruturada de maneira naturalmente equânime a partir de identidades múltiplas que seriam catalizadoras da Diversidade.

ESCOLA E NEGRITUDE

Nos grupos de educandos/as (muitas vezes também compostos por irmãos biológicos) é inevitável a formação interracial, e nesse sentido a violência vivenciada por aquelas/es que apresentam os fenótipos negros mais marcantes é visivelmente superior a dos/das demais, (sendo inclusive discriminados/as pelos irmãos e irmãs, primas e primos de pele mais clara) o uso de expressões como “essa macaquinha não é minha irmã”, “deus me livre ser irmã dessa cabelo de bombril”, “a culpa é desse nego safado” ou “minha mãe não gostava desse neguinho”dentre outras é corriqueiro no cotidiano das relações.

Educandos/as se tornam vítimas dessa mesma violência que afeta seus ideais. Há uma constância da discriminação desses meninos e meninas em espaços públicos e privados a qual termina por fazer aparecer um sentimento de medo e inferioridade que podem prejudicar todos os aspectos de sua vida.

Insegurança, agressividade, angústia e autodesvalorização são algumas características de educandos/as e quando prolongada essa vivência de relações de discriminação, acontecem perdas para o desenvolvimento psicossocial incidindo principalmente na sua capacidade de construir vínculos positivos com outras pessoas.

O estabelecimento dos vínculos, no entendimento de Winnicott (1993) [2] é essencial para o desenvolvimento adequado da personalidade. Segundo o mesmo, por carência de estimulação, de vínculos afetivos e de atenção emocional, a crianças podem ter deficiências cognitivas, deficiência de integração sensorial, dificuldade em processar a linguagem no ritmo que é falada e consequentemente, prejuízo no processo de aprendizado.

Uma relação baseada em práticas discriminatórias, na intolerância a diversidade étnica, na continuidade de divulgação de rótulos discriminatórios, expõe educandos/as a um permanente conflito entre assumir e negar sua identidade.

O relatório Fatores Associados ao Desempenho em Língua Portuguesa e Matemática: A Evidência do SAEB (2003) apresenta a cor/raça dos alunos como um dos fatores que influenciam a proficiência escolar. Dentre as três dimensões identificadas por esse mesmo relatório como condicionantes do desempenho escolar, a raça é apresentada como um dos vetores que integram a dimensão pessoal e sintetiza “experiências de vida que impactam o desempenho dos alunos”. [3]

MESMO FECHANDO OS OLHOS, A VIOLÊNCIA CONTINUA LÁ

As formas mais comuns de expressão de violência com recorte racial dizem respeito a depreciação moral e estética de educandos/as que apresentem fenótipos que os aproximem da ideia que se faz de negritude. Tal fato é muito estruturador das relações e reafirma o caráter do racismo de marca que se vivencia no Brasil.

Educandos/as que apresentam fenótipos que se aproximam de europeus ocupam lugares superiores nas relações estabelecidas e canalizam em si todo o afeto, ideia de beleza e produtividade no contexto escolar: são as referências de beleza, são as rainhas do milho, os/as representantes de turma. Educandos/as que apresentam fenótipo negro ocupam posições menores na dinâmica da sala de aula e escolar e via de regra assumem o lugar da culpa sendo comumente o bode expiatório das relações de grupo (Pichon Riviere).

Um desafio é que um país que desenvolveu o desejo de branqueamento, não é fácil apresentar uma definição de quem é negro ou não. Segundo Kabengele Munanga [4] os conceitos de negro e de branco têm um fundamento etno-semântico, político e ideológico, mas não um conteúdo biológico. Politicamente, os que atuam nos movimentos negros organizados qualificam como negra qualquer pessoa que tenha essa aparência. Sendo assim, entende-se que no Brasil é negro quem parece negro e sê-lo é algo essencialmente fenotípico: cor da pele, tipo de cabelo, traços do rosto.

Um exemplo cruel dessa percepção na prática: em Pernambuco, os homicídios respondem por mais da metade de óbitos de jovens, com uma taxa de 101,5 homicídios por 100.000 jovens. Jovens negros são os mais vitimados: 141,5 homicídios por 100.000 mil jovens. Esses homicídios em sua maioria, são praticados em localidades não constituídos formalmente pelo poder público, localidades de maior concentrações da população negra (pretos e pardos), revelando o maior risco a que estão sujeitas pessoas que sofrem os efeitos da desigualdade social.

Ao sobrepor indicadores sociais e eventos de violência, percebe-se que o homicídio é a principal causa de morte entre pessoas de cor preta, e que o risco de morte é tanto maior quanto mais escura a cor da pele: a taxa de vitimização dos negros é maior que a dos pardos, e a dos pardos, por sua vez, maior que a dos brancos.(MARAVALHO, 2009)[5]

Percebe-se então, que a realidade vivenciada nas dinâmicas escolares, reproduz as dinâmicas da sociedade de maneira geral, a ausência de referências e estereótipos positivados de negro e negritude é fundamental para que no ambiente escolar as tensões e opressões sejam reproduzidas.

A exclusão histórica do sujeito negro, do acesso a bens e direitos e a desconsideração de sua personalidade jurídica nas instituições republicanas no Brasil e a adoção de teorias oriundas do racismo cientifico do século XIX como base do senso comum teórico nos equipamentos de educação, saúde e segurança, consolidam a distorção da presunção da inferioridade e culpabilidade em relação a pessoa negra.

COMO FAZER DE CONTA QUE NÃO EXISTE

As formas de relação geralmente se baseiam na depreciação moral e estética que naturaliza a violência e institui uma cultura de subserviência e não-reação que aponta mais uma vez a herança recebida: os símbolos de inferioridade e o lugar do não-direito. Diante do ideal eurocêntrico de sagacidade, inteligência, beleza, as crianças e adolescentes são levadas a se autonegar, a se mutilar, a não gostar de si mesmas, institui-se assim a negação de sua identidade racial, a fim de se aproximar desse ideal de beleza e aceitação, negar/disfarçar sua negritude é ter uma chance na busca por um lugar no afeto e no cuidado da micro-sociedade ali representada.

CONSTRUINDO ENFRENTAMENTOS

Via de regra, a resposta imaginada para o enfrentamento os episódios de racismo e preconceito no cotidiano racial se pauta na alegação da igualdade entre todos os seres humanos, tal discurso afirma a dificuldade de se lidar com as diferenças e mutila a possibilidade de reconhecimento das peculiaridades culturais do povo negro. No enfrentamento as situações, opta-se aqui pela possibilidade de re-construção de uma identidade negra, a parir da valorização e reelaboração da ideia original da Àfrica

Entendemos aqui que ser negro no Brasil se inicia com a ideia de África e africanos. Assim é necessário que educadoras/es e educandas/os sejam convidadas a um processo de reelaboração “elaborar outras imagens de negros e negras, outras identidades que recoloquem a dimensão o que são e que confrontem e recusem os estigmas” (WERNECK 2006). Busca-se leva-las a abrir os olhos para ver as diferentes forças de estética, beleza, da cultura afrobrasileira, ancoradas na tradição e na vivência corporal, transmissão oral de preceitos que oferecem modelos para a produção de identidades da população negra que contrariam estereótipos (Werneck 2006).

REDESCOBRINDO A ÁFRICA

Propõe-se aqui o desenvolvimento de um processo que busque levar as educadoras e os educadores a compreender a “necessidade da observância do aspecto raça/cor, buscando reconhecer as especificidades de identidade , religiosidade, reconhecimento do lugar do negro no processo histórico de formação da sociedade”(LAGES, 2007:67) [6], entendendo que as brincadeiras pejorativas e a ausência de uma discussão franca e concreta acerca de África e identidade afro-brasileira reforçam a possibilidade do desenvolvimento de uma baixa auto-estima dessas meninas e meninos, enfraquecendo sua autonomia e violam os direitos constituídos, visto que agridem subjetivamente e humilha os/as atingidos/as, produzindo sofrimento e medo, e nenhum ser humano pode ser livre na prevalência do medo.

Tem-se o objetivo de lutar pela constituição de um fazer que possa identificar e revisitar a percepção de África apresentada por meninas e meninos e a partir das vivências propostas na sequência didática com foco na apresentação de um continente positivo, vivo e com uma história interligada a própria história da humanidade e portanto re-significar essas percepções e contribuir para a construção de uma Identidade negra positiva a ser vivenciada por negras/os e respeitada por não-negras/os.

NOTAS

[1] Brasília: SECAD, 2006.
[2] WINNICOTT, Donald W. A família e o desenvolvimento individual. 03 Ed. Martins Fontes, 2005.
[3] Fatores Associados ao Desempenho em Língua Portuguesa e Matemática: A Evidência do SAEB – 2003, agosto de 2004, p. 18.
[4] MUNANGA, Kabengele- A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil, entrevista. Revista Estudos Avançados N50, 2004.
[5] O fator racial nos crimes de execução sumária- A marca do racismo institucional. ONEG, 2009. www.observatorionegro.com.
[6] LAGES, Josélia Batista da Silva. Educação não racista no cotidiano escolar. Recife, 2007.Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.

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Negra, mulher, nordestina, pedagoga, mãe de João Marcos.

Vagas de Estágio (DF)



Audiência pública discutirá acesso da juventude negra à Justiça


Dados do Ministério da Saúde mostram que 76,6% dos jovens vítimas de homicídio em 2010 são negros. Enquanto o número de brancos assassinados caiu 25,5% de 2002 a 2010, o número de assassinatos de jovens negros aumentou 29,8% no mesmo período. Para discutir a alta vitimização dessa parcela da população e ouvir a sociedade sobre as barreiras impostas aos jovens negros para o acesso à Justiça, será realizada, no dia 17 de setembro, a audiência pública Acesso à Justiça para a Juventude Negra em Situação de Violência, no auditório do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Interessados em participar já podem fazer a pré-inscrição no portal do CNJ, que organiza o evento junto com outros órgãos governamentais e entidades representativas de classe. A participação na audiência, no entanto, só está garantida após recebimento de e-mail enviado pela organização, confirmando a inscrição. Clique aqui para fazer a pré-inscrição.

A audiência é uma das ações do acordo para redução de barreiras de acesso à Justiça para a juventude negra em situação de risco, assinado pelo CNJ e pelo Ministério da Justiça (MJ), Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR), Secretaria Geral da Presidência da República (SG/PR), Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e Conselho Federal da OAB (CFOAB).

O acordo tem como eixos o reconhecimento e a defesa do direito à vida da Juventude Negra, a afirmação dos jovens negros como sujeitos de direitos e o enfrentamento ao racismo e a promoção de uma cultura não discriminatória do sistema de Justiça, entre outros.

Cada um dos signatários tem uma competência estabelecida. Ao CNJ cabe garantir o respeito aos direitos dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, com priorização de aplicação de medidas não restritivas de liberdade. No acordo, o Conselho também assumiu o compromisso de promover seminários de sensibilização para o fomento de uma cultura não discriminatória no sistema de Justiça, visando à desconstrução de estigmas em relação à juventude negra e à garantia da presunção de inocência desses jovens.

O CNJ também deve promover, articular e apoiar a inclusão do combate ao racismo institucional no curso de formação dos magistrados, além de fomentar a realização de censo periódico para traçar um diagnóstico do perfil racial da instituição, a partir do qual desenvolverá ações concretas voltadas ao público interno e externo.

Recomendar a inclusão do tema no Planejamento Estratégico do Judiciário e expedir ato normativo visando à implementação de políticas de ação afirmativa para ingresso de jovens negros nos quadros de membros, servidores e estagiários, do Judiciário também foram responsabilidades assumidas pelo CNJ no acordo, cujo gestor é o conselheiro Guilherme Calmon.

Elizângela Araújo
Agência CNJ de Notícias

Fonte: cnj.jus.br

A Rota do Escravo – A Alma da Resistência


O filme “A Rota do Escravo – A Alma da Resistência”, é uma história do comércio de seres humanos que é contada através das vozes de escravos, mas também dos mestres e comerciantes de escravos. Cada um conta sua experiência: da deportação de homens e mulheres para as plantações até o cotidiano do trabalho e os movimentos de abolição.

Produzido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), traduzido e dublado pelo Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio).

Assista:

Fonte: geledes

Inscrições Abertas: Curso Pré-vestibular Comunitário e Aulões para Concurso

Inscrições Abertas:
EDUCAFRO,Curso Pré-vestibular Comunitário (Gratuito), Aulas de segunda a sexta-feira,das 19:00 às 22:30h. Aulões para Concursos!(Gratuito) Aos sábados,das 8 às 12h;Quadra 911 sul,entrada pelo estacionamento da Paróquia Santo Antônio.



Fonte: EDUCAFRO, SERNEGRODF.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Intelectuais e ativistas do Movimento Negro lançam Fundo de Combate ao Racismo

Campanha para criação do Projeto de Lei de iniciativa popular.
Brasília – Intelectuais, acadêmicos e ativistas do movimento negro e antirracista lançaram na noite da última quinta-feira (21/08), na sede do Sindicato dos Jornalistas de Brasília, a campanha pró criação do Fundo Nacional de Combate ao Racismo (FNCR), que será objeto de um projeto de iniciativa popular a ser apresentado ao Congresso Nacional.

O lançamento público da proposta do Fundo foi feita simultâneamente a uma campanha em que os organizadores do movimento pretendem coletar 1,4 milhões de assinaturas em todo o país. No Manifesto de lançamento da campanha ativistas, intelectuais e simpatizantes da luta antirracista chamam a atenção da sociedade e dos governantes para a necessidade de fortalecimento da Política de Combate ao Racismo e de Promoção da Igualdade Racial.

“Decorridos décadas de luta do Movimento Negro, destacamos a existência de avanços significativos nas instâncias federais, estaduais e municipais de Promoção da Igualdade Racial que vem sendo estruturadas em todo o país, consolidando a busca pela Igualdade Racial como uma diretriz estratégia de políticas públicas. Entretanto, devemos salientar que a Política de Combate ao Racismo encontra-se em um momento de impasse. Não se faz uma política dessa natureza apenas por decreto. São necessários recursos”, afirmam os subscritores do Manifesto, entre os quais estão Hélio Santos, Suely Carneiro, Edna Roland, Hédio Silva Jr. (foto1), Mário Theodoro Lisboa, Ivair Augusto dos Santos, Vovô do Ilê, João Jorge Rodrigues, MV Bil, a professora Petronilha Beatriz Gonçalves, a ex-ministra Matilde Ribeiro, o reitor da Unipalmares, José Vicente (foto 2), e a viúva de Abdias do Nascimento, Elisa Larkin Nascimento.

O Manifesto enfatiza que o principal objetivo do Fundo – que pretende arrecadar 3 bilhões até o ano de 2030 - será financiar a política de combate ao racismo “proporcionando as condições necessárias para que a SEPPIR, e a Fundação Cultural Palmares, bem como os demais órgãos que trabalham com o combate ao racismo e promoção de igualdade racial, possam vir a exercer suas atribuições de forma plena, eficaz e continuada”.

Veja, na íntegra, o texto do Manifesto pela criação do Fundo Nacional de Combate ao Racismo

Nós, abaixo assinados, vimos a público chamar atenção da sociedade e dos governantes para a necessidade de fortalecimento da Política de Combate ao Racismo e de Promoção da Igualdade Racial no Brasil. Decorridos décadas de luta do Movimento Negro, destacamos a existência de avanços significativos nas Instâncias federais, estaduais e municipais de Promoção da Igualdade Racial que vêm sendo estruturadas em todo o país, consolidando a busca pela Igualdade Racial como uma diretriz estratégica de políticas públicas. 

A política de cotas raciais nas Universidades e Instituições Federais de Ensino Técnico, ainda que não totalmente focada no público negro, representa um grande incentivo a jovens negros e negras na busca pelo ensino de qualidade e ascensão social. Do mesmo modo ressaltamos a relevância da introdução na grade curricular do ensino fundamental da História da África e da Cultura Afro-brasileira (Lei 10.639/2004). Entretanto, devemos salientar que a Política de Combate ao Racismo encontra-se em um momento de impasse.

Não se faz uma política dessa natureza apenas por decreto. São necessários recursos. Por esse motivo entendemos ser de fundamental importância a criação de um Fundo Nacional de Combate ao Racismo, o FNCR. O Fundo proposto terá como objetivo primordial financiar a Política de Combate ao Racismo, proporcionando as condições necessárias para que a Seppir, e a Fundação Cultural Palmares, bem como os demais órgãos que trabalham com o combate ao racismo e promoção de igualdade racial, possam vir a exercer suas atribuições de forma plena, eficaz e continuada.

Estas envolvem, além dos programas e ações, atividades ligadas à implantação do Sistema Nacional de Promoção de Igualdade Racial – SINAPIR, ao acompanhamento e monitoramento da questão racial, à certificação e à titulação dos Territórios Remanescentes de Quilombos, à Ouvidoria da Seppir, ao apoio às manifestações Culturais Afro-brasileiras, ao combate à intolerância Religiosa, além de Campanhas de Combate ao Racismo e das ações da Ouvidoria da Seppir.

Os recursos destinados ao enfrentamento do racismo e as políticas de promoção da igualdade racial devem alcançar um patamar à altura dos desafios presentes hoje no Brasil, na perspectiva de um país com igualdade de gênero e raça. Por isso defendemos a criação do FNCR e convidamos todos aqueles que desejam um Brasil verdadeiramente democrático, social, econômico e racialmente a se associarem a esta Campanha, pois o FNCR será o instrumento que possibilitará o avanço das Políticas de Combate ao Racismo e de Promoção da Igualdade Racial em nosso país.


Veja quem assina:
Adinaldo de Souza, Adriana Barbosa, Aleixo Paraguaçu, Altair Lira, Amauri Pereira, Ana Célia Silva, André Lázaro, Angela Maria da Silva Gomes, Angélica Basthi, Anhamona de Brito, Antônio Carlos (Vovô do Ilê), Arísia Barros, Athayde Motta, Benilda Brito, Breitner Tavares, Carlos Alberto Medeiros, Carlos Alberto Santos de Paulo, Carlos Alves Moura, Celso Athayde, Cláudia Maria Graciano, Davi Raimundo dos Santos (Frei David), Débora Santos, Denise Jardim (UFRGS), Adilson Amaral Nabarro, Edna Roland, Edson França, Elisa Larkin Nascimento, Emir da Silva, Eustáquio Rodrigues, Estela Bonini, Eurídio Bem-Hur, Fátima Oliveira, Fausto Barbosa, Francisco das Chagas Silva (Prof. Chiquinho), Fúlvia Rosemberg, Genival Oliveira Gonçalves (GOG), Glória Moura, Hédio Silva Jr., Hélio Santos, Humberto Adami, Iradj Roberto, Irinéia Lina Cesário, Iris Cary, Ivair Augusto do sSantos, Ivanir dos Santos, Ivete Sacramento, Jeruse Romão, João Bosco Borba, João Feres Jr., João Jorge Santos Rodrigues, João Silva, Joaze Bernardino, Joelzito Araújo, Jorge Aparecido Monteiro, Jorge Arruda, José Antônio Moroni, José Vicente (Zumbi), Joselina Silva, Juarez Ribeiro, Jurandyr Azevedo de Araújo (Padre Jurandyr), Jurema Werneck, Leonor Araújo, Lúcia Maria de Assunção Barbosa, Lúcia Xavier, Luciana Jaccoud, Luiz Carlos Ele Semong, Luislinda Dias de Valois Santos, Luiz Alberto Gonçalves e Silva, Luz Carlos Oliveira, Luiz Felipe de Alencastro, Lula Rocha, Maria Felipe Gentil, Marcelo Dias, Marcelo Paixão, Maria Aparecida da Silva Bento, Maria Aparecida de Matos, Maria Aparecida Laia, Maeria Bernadete de Azevedo Figueiroa, Maria Cecília de Moura Ferreira Alves dos Santos, Maria Inês Barbosa, Maria Nilza da Silva, Mário Nelson Gomes Carvalho, Mário Theodoro, Matilde Ribeiro, Miriam Santos Cardoso, MV Bill, Nathalie Beghin, Nélson Inocêncio, Nilma Bentes, Nilza Iracy, Nuno Coelho de Alcântara, Patrícia Lacerda Lima, Paulino Cardoso, Paulo Afonso de Araújo Quermes, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, Raimundo Jorge de Jesus, Renato Ferreira, Renísia Garcia Filice, Ronaldo Crispim Sena Barros, Sales Augusto dos Santos, Sandra Martins, Sidarta Ribeiro, Sidney Barbosa, Sionei Leão, Sofia Levy, Sonia Aparecida dos Santos, Suely Carneiro, Teresinha Bernardo, Thiago Thobias, Timothy Mulholland, Valdecir Pedreira do Nascimento, Valdice Gomes, Valmiro Nunes, Válter Silvério, Vera Lopes, Verônica Gomes, Wânia Santana, Zélia Amador e Zulu Araújo.

Fonte: afropress

Lançado o edital Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros



Inscrições podem ser feitas até 10 de outubro. Investimento total é de R$ 4 milhões


A Fundação Nacional de Artes – Funarte lançou nesta segunda-feira, 25 de agosto, o edital Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros. Com investimento total de R$ 4 milhões, oriundos do Fundo Nacional de Cultura (FNC), a seleção vai contemplar projetos que promovam a reflexão, a pesquisa de linguagem e a criação nas áreas de artes visuais, circo, dança, música, teatro, preservação da memória e artes integradas. Ao todo, serão concedidas 45 bolsas distribuídas em três módulos. Para o Módulo A, vão ser destinados 15 prêmios de R$ 150 mil; para o Módulo B, 12 prêmios de R$ 80 mil; e para o Módulo C, 18 prêmios de R$ 30 mil. Podem participar proponentes autodeclarados negros (pretos e pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). As inscrições terminam no dia 10 de outubro e devem ser feitas somente pelos Correios.

Com o objetivo de proporcionar aos produtores e artistas negros oportunidade de acesso a condições e meios de produção artística, este edital vai contemplar exposições e mostras (pintura, escultura, desenho, gravura, fotografia, novas mídias e demais linguagens), oficinas, intervenções urbanas, seminários e eventos similares nas áreas de artes visuais; projetos de produção e circulação de espetáculos, bem como oficinas e seminários, entre outros eventos, nas áreas de circo, dança e música. Ainda na área de música, produção de material de difusão artística (CDs, DVDs e websites) e produção de livros paradidáticos.

Em relação à preservação da memória: os projetos deverão ser relacionados à produção artística negra (em artes visuais, circo, dança, fotografia, música e teatro) e que se destinem à realização de pesquisas, publicações, organização e tratamento de acervos. Na área de teatro também serão aceitos projetos de produção e circulação de espetáculos de teatro para espaços fechados ou rua, adulto ou para infância e juventude, oficinas, pesquisas estéticas, seminários e eventos similares. Por fim, nas artes integradas, as propostas deverão envolver duas ou mais linguagens, podendo ainda agregar questões referentes ao patrimônio cultural, culturas populares e tradicionais, moda e arte digital.

O edital Bolsa Funarte de Fomento aos Artistas e Produtores Negros foi publicado no Diário Oficial da União, nesta segunda-feira, dia 26 de agosto de 2014.


Mais informações:
Centro de Programas Integrados – Cepin
Tel. : (21) 2279-8080vvv

Fonte: Funarte

Docentes do Brasil e do mundo dizem não ao despejo de 8 mil famílias em Belo Horizonte

A questão da terra e da moradia, em especial nas grandes e médias cidades, tem sido motivo de grandes mobilizações no último ano. O MTST, a mais visível das organizações, bem como diversas outras articulações de Sem Teto, tem radicalizado e demonstrado o quanto a luta social é importante e trás ganhos coletivos à classe trabalhadora.

Já o Estado, em resposta às necessidades da população mais pobre, ao invés do diálogo, coloca seu seu aparato jurídico e militar a serviço da repressão e da criminalização desses movimentos. Mas isso não é “privilégio” de São Paulo. Em todo o Brasil, movimentos e ocupações de Sem Teto insurgem em luta. Nesse momento ganha notoriedade as ocupações de Sem Teto da região do Isidoro, em Belo Horizonte-MG.

Ameaçadas de despejo, as ocupações de Vitória, Rosa Leão e Esperança, região norte de BH, se mobilizam provocam solidariedade do Brasil e do exterior. Todos nós podemos e devemos nos juntar à resistência dos moradores na região do Isidoro!
Resiste Isidoro! Nós resistiremos com vocês!


MAIS DE 500 DOCENTES DO BRASIL E DO MUNDO DIZEM NÃO AO DESPEJO DE 8 MIL FAMÍLIAS EM BELO HORIZONTE

Por Movimento #ResisteIsidoro,
A ameaça de colocar 8.000 famílias na rua, contando entre elas um grande número de crianças e idosos, trouxe à tona o antigo calcanhar de Aquiles que constitui a questão da destinação dos territórios que não cumprem nenhuma função social e o tratamento dispensado aos alijados do direito à moradia no Brasil. No dia 6 de agosto deste ano, o Estado de Minas Gerais comunicou oficialmente uma ordem de despejo violenta às ocupações Vitória, Rosa Leão e Esperança, da região do Isidoro, que compreende o norte de Belo Horizonte e parte de Santa Luzia. Dividem a questão interesses imobiliários que chegam ao faturamento de 15 bilhões de reais e uma comunidade tão numerosa como nossas cidades interioranas constituída por trabalhadores pobres que lutam para que seja reconhecido seu direito à moradia. São elas pessoas que, numa cidade com um déficit habitacional de mais de 78 mil moradias, se encontram em grande parte inscritas no programa Minha casa Minha Vida que, até hoje, não entregou apenas uma única habitação destinada a pessoas para a faixa salarial a qual pertencem: de 0 a 3 salários mínimos.

Sem diálogo ou tentativas de exaurir possibilidades de resolução do problema, viabilizando contrapartidas que respeitem a dignidade e os direitos das famílias (à vida, moradia, segurança e dignidade), uma mobilização articulou-se em busca de alcançar outras respostas por parte do poder público. Dessas frentes de apoio participam moradores das ocupações, ativistas dos Direitos Humanos, artistas, membros da Igreja Católica, jornalistas, arquitetos, advogados e também professores universitários. Estes, tendo produzido um “Manifesto de docentes em solidariedade às Ocupações do Isidoro”, destacamos em razão de seu alcance que ultrapassou as fronteiras da cidade e do estados envolvidos. Somam hoje mais de 500 assinaturas de docentes de áreas diversas do conhecimento, vinculados a universidades destacáveis do Brasil e do mundo. Entre eles estão a historiadora Virgínia Fontes, os sociólogos Boaventura de Sousa Santos e Ricardo Antunes e o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro que, como figuras pensantes que transitam por questões afins e diretamente ligadas à situação, confirmam a legitimidade das demandas sociais urgentes dessas ocupações.

A Pró-Reitora Adjunta de Extensão da UFMG Claudia Mayorga fala sobre o manifesto: “Através de trabalhos acadêmicos de diversas áreas do conhecimento, das Humanidades às Ciências Exatas, docentes em todo o Brasil têm difundido conhecimentos que explicitam a situação de precariedade e de violação de direitos humanos vividos por moradores de ocupações em diversas cidades brasileiras. Esses trabalhos explicitam a violência material e simbólica a que estão submetidas essas populações, e como docentes e cidadãos nos posicionamos contra essas práticas, através do manifesto.”

Em avaliação do panorama, o sociólogo Ricardo Antunes, professor da UNICAMP, acrescenta ainda: “Dentre tantas outras manifestações, como a precarização e o desemprego, que procuram converter a classe trabalhadora em ‘coisas supérfluas’, ‘desnecessárias’, a brutal desigualdade social, com a consequente riqueza concentrada em poucas mãos, criou o que, com lucidez, Mike Davis denominou como planeta-favela, com as cidades separadas entre ricos e pobres, mansões fechadas em seus condomínios privados e monumentais e, de outro lado, as favelas completamente desprovidas de mínimas condições de vida humana. E, com a ampliação das ‘áreas nobres’ para todas as partes, os pobres são empurrados ainda mais para a periferia da periferia… acentuando mais este traço da nossa barbárie. É contra essa brutal tragédia e segregação urbana e social que as ocupações populares se revoltam e se rebelam, expondo o enorme fosso social existente em nosso país e que tem que ser profundamente combatido”

Leia na íntegra o manifesto (disponível em português, espanhol e inglês) e assine-o através do link: http://migre.me/l56PA.


MANIFESTO DE DOCENTES EM SOLIDARIEDADE ÀS OCUPAÇÕES DO ISIDORO

Um iminente despejo, de proporção ainda mais exorbitante que o ocorrido em 2012, no Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos/SP, ameaça mais de 8 mil famílias, no estado de Minas Gerais. Trata-se das ocupações Esperança, Vitória e Rosa Leão, todas localizadas na região de Mata da Granja Werneck, no Bairro Isidoro, em Belo Horizonte. O histórico de despejos ocorridos em diferentes estados brasileiros nos últimos anos torna temerário o cenário de reintegração de posse das terras onde se encontram tais ocupações. Há uma grande preocupação de que normas nacionais e internacionais, que garantem uma série de direitos e proteção às famílias do Isidoro, sejam desrespeitadas; além de desalojamento forçado e violento, o qual atenta contra a vida dos moradores, entre os quais há um grande número de mulheres, crianças e idosos.

Nós, docentes abaixo-assinados, viemos por meio deste manifesto solicitar às autoridades responsáveis que prezem pelo direito fundamental à vida, à moradia, à dignidade humana e à segurança. Diversos trabalhos de extensão e pesquisa tem sido realizados em todo o Brasil e amplamente divulgados através de artigos, teses, dissertações, monografias, etc. e revelam que a violação dos direitos humanos tem ocorrido de forma sistemática por meio de intervenções das políticas urbanísticas implementadas de forma autoritária em diversas cidades brasileiras. A especulação imobiliária não pode se sobrepor aos direitos humanos das famílias que fizeram do Isidoro o seu abrigo e a sua comunidade. Exigimos que os poderes judiciário e executivo observem o direito das populações pobres, que não devem ser criminalizadas e/ou punidas por materializarem o seu direito fundamental à moradia, invibializado por um histórico político e econômico de beneficiamento de especuladores.

Os docentes, de todas as áreas do conhecimento, que assinam este manifesto, acreditam que a ciência e a educação produzidas neste país têm por objetivo a eliminação da desigualdade social, não apenas formal, mas substancialmente. Assim, rechaçam qualquer decisão que viole os direitos fundamentais dos moradores do Isidoro e configure um novo massacre às populações pobres e sem teto deste país.
Som@s tod@s Isidoro!
#ResisteIsidoro